domingo, 27 de novembro de 2011

Fado é Património Imaterial da Humanidade

Painel do Fado por José Malhoa

Fado do marinheiro 

Perdido lá no mar alto
Um pobre navio andava;
Já sem bolacha e sem rumo 
A fome a todos matava. 

Deitaram a todos as sortes 
A ver qual d'eles havia 
Ser pelos outros matado 
P´ró jantar daquele dia 

Caiu a sorte maldita 
No melhor moço que havia; 
Ai como o triste chorava 
Rezando à Virgem Maria. 

Mas de repente o gageiro, 
Vendo terra pela prôa, 
Grita alegre pela gávea: 
Terras , terras de Lisboa. 

Cancioneiro popular

domingo, 20 de novembro de 2011

Debate sobre a Reforma do Poder Local

Decorreu no passado dia 19, no Palácio Valenças, em Sintra, um debate promovido pela Alagamares - Associação Cultural em torno da reforma da Administração Local, despoletado pelo designado Documento Verde, e que vai implicar alterações não só no mapa das freguesias, como no número de eleitos e na reconfiguração do modelo eleitoral e competências das autarquias. Decorre desse documento que Sintra verá agrupadas 5 das suas actuais freguesias (Montelavar, Pêro Pinheiro, S.Maria e S.Miguel, S.Pedro de Penaferrim e S.Martinho), reduzidos os vereadores de 10 para 8, e reconfigurado o quadro de dirigentes municipais, de acordo com critérios aí definidos no sentido da sua diminuição.

Com uma plateia interessada, e juntando pela primeira vez em torno deste tema representantes dos partidos políticos com assento na Assembleia Municipal, a sessão durou várias horas e contou com a participação de diversos e empenhados munícipes.

sábado, 12 de novembro de 2011

O Silêncio dos Cobardes


“E a alma Maubere acordou...”
Esteve aferrolhada em Salemba,
No rosto das viúvas,
No olhar das crianças,
No silêncio dos trilhos,
Nos cumes de Ramelau,
Nas lágrimas não caídas,
No cemitério de Santa Cruz,
Nos assassínios em massa,
Na destruição dos lares,
No crocodilo que atravessou oceanos
e silenciosamente olhou os poderosos...
Mas o sol nascia todas as manhãs
Tocando as asas dos Loricos,
Tocando os bambús, tocando os cafezais,
Tocando o coração dos resistentes
Como uma oração muda
Que silenciosamente ficava
Nas máquinas dos fotógrafos.

Nas montanhas os bravos resistiam;
Os sonhos dos mártires povoavam-nas:
Nicolau Lobato – Presente!
Espírito Santo – Presente!
Borja da Costa – Presente!
Konis Santana – Presente!
E um a um respondiam à chamada
Do impossível que estava ali à mão,
E o caos do silêncio aumentou,
Espalhou-se pelas nuvens, pelos ventos,
Que atravessaram continentes
E tocaram o silêncio cobarde de outros homens.
O mundo acordou a olhar o crocodilo
Que trazia nele o sonho dos Bravos:
Resistir é Vencer. A Pátria é Hoje e Sempre.

Autor: Jónatas

Massacre de Santa Cruz foi há 20 anos - a Justiça continua por fazer!

A 12 de novembro de 1991 mais de 2.000 pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em Outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.
No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão.
Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2.261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.
201 pessoas foram massacradas.
A maior parte dos corpos continua em parte incerta!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CONFERÊNCIAS DO MONTE DA LUA

Em conformidade com os princípios e valores e de acordo com o objecto social da génese de formação da VITRIOL – estimular, apoiar e incentivar a realização de projectos de investigação científica, organizar eventos, conferências, workshops, acções de formação que viabilizem a informação e sensibilização da opinião pública para o desenvolvimento da língua e cultura portuguesa nas suas diversas expressões - foi decidido a realização das CONFERÊNCIAS DO MONTE DA LUA.
As Conferências estão organizadas em três vertentes fundamentais:

a) Convidar um Orador que aborde um tema alusivo ao património, cultura e língua Lusófona;

b) Realização de um Jantar/Conferência para apresentar o tema, seguido de debate;

c) Efectuar um Roteiro/Visita para visualizar, integrar e conhecer os locais e património do tema apresentado;

Pretende-se estimular, apoiar e incentivar a realização de projectos de investigação científica, eventos, acções de formação que viabilizem a informação e sensibilização da opinião pública para o desenvolvimento da língua e cultura portuguesa nas suas diversas expressões, na defesa da mais elementar liberdade, justiça social, igualdade para proporcionar a todos os Cidadãos o acesso à língua e à cultura Portuguesa e ao mundo da Lusofonia.

Autor: VITRIOL - ASSOCIAÇÃO PARA A DIVULGAÇÃO E PROMOÇÃO DA LÍNGUA E CULTURA LUSÓFONA

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A VITRIOL entrevista João Rodil

A Associação Vitriol foi a Sintra ao encontro de João Rodil, historiador, investigador na área de história, etnografia e literatura, com obras publicadas sobre a história da região de Sintra, partilhando os segredos que esta Serra sagrada encerra e tem-se dedicado ao longo de vários anos a esculpir uma outra montanha - a do imaginário dos homens, com o seu amor pela beleza da paisagem, património e cultura.
E, foi numa atmosfera de quase Outono, fim de tarde na “Vila Velha”, com um sol já tímido espreitando entre as folhas e um fresco vindo da Serra apelando a um chá quente e uma queijada, que se iniciou uma agradável conversa com João Rodil em que a Vitriol colocou algumas questões:

Vitriol – Para si, enquanto homem e historiador, que importância e significado tem Sintra?

João Rodil – Bom, Sintra, em primeiro lugar, é a minha terra. E isso tem um significado tanto maior quanto o amor que temos por ela. Ou seja, se dedicamos uma vida à terra amada, se vivenciamos, quotidianamente, a paisagem, os pergaminhos e os mistérios de Sintra, então quer dizer que a terra possui um lugar proeminente no nosso crescimento e desenvolvimento humano! Eu sinto-me parte integrante da geografia de Sintra e tenho a certeza de que Sintra faz parte do meu corpo.
Enquanto homem interessado pela História, Sintra é um verdadeiro livro aberto a muitos passados, a múltiplos segredos, um imenso caldeirão de culturas, de tolerâncias, de perspectivas estéticas e filosóficas. E bastaria isso para que eu me apaixonasse por Sintra, mesmo que não fosse autoctone. Mas Sintra é, também, um lugar com espírito, com um querer muito próprio, difícil de entender porque ora se esconde nas brumas, ora se revela num brilho espelendoroso que nos ofusca. Creio que para se penetrar verdadeiramente em Sintra, é necessário acreditar na sua transcendência…

Vitriol – O que acha que deveria ser feito para que as pessoas tivessem um maior e mais fácil acesso à cultura em Sintra?

João Rodil – Falta fazer tudo, e esse tudo é quase nada. Quero eu dizer com isto que, como a maior parte das pessoas, quando vêm a Sintra, trazem já com elas uma grande apetência cultural. Vem-se a Sintra para levar um banho de cultura. Ora, acho eu que bastaria aos políticos aproveitarem essa apetência pessoal, recebendo-as de braços abertos, promovendo os valores patrimoniais, os artistas de todas as estéticas e formas, proporcionando, enfim, um verdadeiro encontro cultural onde Sintra seria um imenso palco. Pode parecer utópico, mas Sintra tem condições, história e magia que baste para se tornar, sem grande esforço, num dos clusters culturais mais importantes do Mundo. Agora, é preciso vontade política… e paixão… e saber.

Vitriol – Com tantas figuras ligadas à História de Sintra, qual é aquela que tem mais peso para si?


João Rodil – Essa é uma pergunta difícil! É que eu não tenho uma personalidade preferida, tenho muitas e em várias épocas. Vamos ver, então se consigo limitar o rol, para não maçar muito. Na História, tenho que destacar a Rainha Santa Isabel e D. Dinis, ela por nos ter iniciado no Culto do Divino Espírito Santo e ele por ter sido «o plantador das naus a haver». Também acrescento a Ínclita Geração, com D. João I e D. Filipa à cabeça; o D. Afonso V, esse rei templário meu conterrâneo; D. Manuel I, sobretudo pelo amor que dedicou a Sintra e pela forma como lhe aumentou o património. E D. João de Castro, o vice-rei místico da Penha Verde, símbolo da honra e da nobreza lusa. Mas tenho que dar primazia a um rei estrangeiro, mais português que muitos portugueses: D. Fernando II, o príncipe da Baviera que fez de Sintra o cenário dos seus sonhos mítico-mágicos. Que misturou todas as culturas e todas as árvores do mundo e as plantou – árvores e culturas – no alto da Serra da Lua, a dizer-nos que é essa a nossa grande bandeira, a da tolerância cultural, étnica e religiosa.

Na Literatura, ainda a minha lista é maior. Dói-me o coração só de pensar que vou ter que reduzi-la. Bem, começo pelo Mestre, Gil Vicente, o poeta que melhor cantou a mitologia dos portugueses. João de Barros, aquele mesmo que nos contou a «Crónica do Imperador Clarimundo». Camões, o amor e a saudade que o ligou a Sintra; Frei Heitor Pinto, o grande clássico preso e assassinado por Filipe II de Espanha, que na hora da prisão lançou aos castelhanos o fogo mais sincrético da alma lusitana, dizendo: «Pode D. Filipe meter a mim em Castela. Não pode meter Castela em mim.»
E que dizer de Garrett, de Herculano, de Camilo? Tanta coisa, tantos versos, tanta veneração por Sintra. E Ramalho, Antero e Eça de Queirós, com as suas peregrinações a Sintra, e páginas belíssimas da nossa Literatura dedicadas a esta terra. E Teixeira de Pascoaes, o poeta do saudosísmo, único movimento filosófico genuinamente português; Mário Beirão, Afonso Lopes Vieira e tantos outros que o acompanharam. E depois Fernando Pessoa e os seus encontros secretos com Alister Crowley; e, sobretudo, Almada Negreiros, esse «menino com olhos de gigante» que tão bem soube cantar os mistérios de Sintra. É melhor parar por aqui, ou corro o risco de nunca mais parar…

Vitriol – Qual é o seu sonho como português?


João Rodil – O meu sonho, e não será só o meu, é que Portugal se cumpra! É o que falta, como diz o Pessoa. Repare, nós fomos o país que levou a Europa ao Mundo e que trouxe o Mundo à Europa. E agora (nos últimos trinta e cinco anos) que fazemos (faremos?) parte da Europa, andamos meio perdidos, sem rumo definido, sem sabermos muito bem qual é o nosso papel nesta nova cena dramática que é a União Europeia. Ou seja, nós que transportámos a Europa às costas, andamos agora às cavalitas da Europa.

Apenas em um momento – um, apenas – e esporadicamente e de forma breve e frouxa e mais dois ou três, Portugal se cumpriu nestes últimos anos. E esse momento único foi na luta nacional, que soubemos transformar numa luta global, pela independência de Timor. E aí, fomos inteiros, fomos nós, iguais aos portugueses dos Descobrimentos. É que se há alguma coisa em que somos bons é nesta coisa de levar e trazer, de negociar, ou melhor, de dialogar e colocar os outros em diálogo. Por isso, acho que o grande papel de Portugal no Mundo de hoje é diplomático. E para desempenharmos bem esse papel é preciso que sejamos todos embaixadores dos valores que nos definem a alma, e que tenhamos a consciência plena daquilo que somos e quanto valemos. Então, só então, Portugal se cumprirá.

Autor: O. Florência

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um povo...Um mito!

Gabriel Pereira de Castro (1571-1632), deificou Portugal e o seu povo, ao apresentar Lisboa como a cidade fundada por Ulisses no seu longo poema épico intitulado "Ulisseia ou Lisboa Edificada", onde são enaltecidos vários aspectos das tradições históricas de Portugal, conferindo assim maior glória à cidade de Lisboa perante o mundo e por ter sido a partir dela que se alargaram os mares pondo fim ao Velho Mundo.  
 
O poema foi publicado por seu irmão Luís Pereira de Castro em 1636.
Canto I
As Armas e o Varão que os mal seguros
Campos cortou do Egeu e do Oceano,
que por perigos e trabalhos duros
eternizou seu nome soberano:
A grã Lisboa e seus primeiros muros
(De Europa e largo Império Lusitano
Auta Cabeça), se eu pudesse tanto
Pátria, o Mundo, à Eternidade canto.

Lembra-me Musa as cousas e me inspira,
como por tantos mares o prudente
Grego, vencendo de Neptuno a ira,
chegou no Tejo à túmida corrente;
ouvirá o som da lusitana lira,
o negro ocaso e lúcido oriente
se tu dás ser a meu sujeito falto,
para que caiba em mim furor tão alto.



Fernando Pessoa no seu poema "Ulisses" - Mensagem, escrito entre 1913 e 1934 mostra como o futuro glorioso de Portugal poderá concretizar-se através da vivência do mito e da energia criadora que ele liberta.

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.



Estes dois poetas, de épocas diferentes, colocaram o povo português como descendentes de deuses, Ulisses tem no sulcar dos mares mais do um sucessor e em Ulisseia constituiu-se uma comunidade de Homens capazes que se reconhecem no mito fundador e que ostentam a marca de descobridores até aos confins dos mares.
O mar, esse deixou de ser apenas um mar sem fim e tenebroso, mas sim, um Novo Mundo em que os homens espalhados pelo horizonte inteiro passaram a estar ligados pelo oceano.
Ulisses, se bem que não tenha existido foi elevado à condição de mito, essa figura lendária foi suficiente para que o povo português se sentisse projectado para a grandeza que tem e que poderá ainda ter, onde o que verdadeiramente importa não é a existência real dele, mas aquilo que ele pode representar.
Assim, o mito, este ou outro, vem dos confins do tempo e como uma força obscura, penetra na nossa realidade presente, infiltra-se como um sinal divino nas nossas vidas, que desligada essa força mágica, ficamos reduzidos a menos que nada, “metade de nada” como escreveu Fernando Pessoa, condenados fatalmente a nada.


Autor: O. Florência

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pontífices da Fraternidade


Intróito

Entre o sete e o oito
Enquanto os rios seguem os caminhos da serpente,
Os homens criam ritos, mitos
Que se entrelaçam brilhando
Com a Estrela d’Alva em cima e S. João em baixo,
Com a sua ovelha ao colo.
Ousemos nós ser pastores de rebanhos
Nas colinas dos seus montes,
Com eles subir aos castelos e passar as suas pontes;
Entre duas cidades com rios
E homens de bons costumes.

Línguas diferentes e usos diferentes,
Mas com o mesmo Sol, a mesma Lua,
O mesmo Delta Luminoso;
As mesmas pedras polidas: cantos de canteiro,
Correndo, dançando, cantando,
Serpenteando colinas, castelos e pontes
De pedra e ferro feitas,
Por mãos de pedreiro,
Pontífices da Fraternidade.

Ousemos nós ser
Mais que o caminho,
Homens palmilhando o seu destino
E que mais não houvesse que o sonho
Esse bastava,
Para criar nós de amor.

O oito
Duas cidades, dois rios
Vão de Ketter a Malkut,
Duas coroas e dois reinos
Ligam a Terra aos Céus.

Rios serpenteando colinas e castelos,
Caminhos da serpente.
Que criam ritos e mitos
No imaginário humano,
Que entrelaçam infinitos
Na árvore que esta vida é:
Vera árvore da vida,
Forjada de ferro e de aço
E de pedra trabalhada,
Com cinzel e com o maço,
Os homens constroem pontes
Que passam os impossíveis
E criam laços em nós,
Amarras de corações
Que vão para lá de nós.

Duas cidades, dois rios
E homens de bons costumes;
Ousem eles ser pastores de rebanhos
Nas colinas dos seus montes
E com eles subir aos castelos
E passar as suas pontes.

Naveguem barcos, navios,
Levem-nos a novos rumos,
La Loire e o Tejo
Daqui e d’além,
Um passa por Tours
Outro por Santarém.

Lisboa essa cidade
Onde passam sete rios,
Sendo o Tejo o oitavo.
Porto de Templários,
Onde um anjo caído
Lucífer a luz trouxe,
Que outra coisa não fosse
Fez-nos sonhar ser deuses.

Em Lisboa, cidade templo de infinitos,
Quando o Oito adormece,
Os Templários renascem…

Autor: Jónatas

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - V

Densos mistérios
Saindo de Tomar, é obrigatório ver, ainda nas imediações da cidade, o monumental aqueduto de Pegões. Era por aqui que o convento se abastecia de água. O facto de atravessar vales acentuados confere ao monumento um carácter impressionante, em alguns pontos dos seus sete quilómetros de extensão. No vale de Pegões, a parte mais comovente do percurso, o aqueduto desenha uma curva, num pórtico com 58 arcos de volta inteira e 16 arcos quebrados. Uma obra a pedir reabilitação, de modo a que se possa passear pelo aqueduto.
Mais longe, espera-nos a torre templária de Dornes, a uma meia hora da cidade. Uma vez mais, estamos perante um monumento único. E, também aqui, fechado a visitas, neste caso pelo mau estado da escada de acesso. Uma pequena obra e uma bilheteira permitiriam dar outra visibilidade a esta construção, transformada no tempo de Dom Manuel em torre sineira da igreja matriz, situada ao lado.
A igreja terá sido fundada pela Rainha Santa Isabel e nela se pode ver uma assombrosa Pietá em pedra, do século XVI. Os 42 círios de Dornes, representando outras tantas povoações vizinhas, estão guardados na sacristia: saem em procissão desde segunda-feira de Páscoa até ao terceiro domingo de Setembro. Já houve alturas em que a rivalidade entre aldeias foi pretexto para ameaças de tiroteio. Construída sobranceira à albufeira, numa das curvas do Zêzere, o edifício é de planta pentagonal e teria servido como torre-atalaia dos templários. O mistério adensa-se pela serenidade conferida ao lugar pela confluência do rio, da torre, dos montes e vales em redor.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - IV

Um tríptico escondido
Voltemos aos segredos que Tomar esconde. Por exemplo, o tríptico de origem flamenga, do século XVI, que está no baptistério da igreja de São João Baptista, logo à esquerda quando se entra. Tem que se pedir ao sacristão da igreja que faça o favor de abrir a porta do baptistério. Só assim se pode apreciar a obra - não haverá maneira de proteger o quadro sem ter que o esconder? Representando cenas da vida de Jesus - o baptismo no centro, as bodas de Caná e as tentações, além de São João e Santo André nas portas -, a obra é de uma delicadeza ímpar.
Há nesta igreja ainda outras sete telas a justificar a visita. São todas de Gregório Lopes, um dos nomes mais destacados do Renascimento português. Do lado direito, estão A Degolação de João Baptista, a Apresentação da Cabeça de João Baptista, Abraão e Melquisedeque, a Apanha do Maná, a Última Ceia e a Missa de S. Gregório. Na parede defronte, vemos uma Visitação. Gregório Lopes tem obra distribuída por Setúbal, Madeira e Tomar (há pinturas suas também no Convento de Cristo). Em Tomar, além de podermos pousar o olhar de cada vez que passamos junto do Nabão, ainda é possível dar um salto à ermida de Santa Iria. Destaca-se aqui um retábulo em calcário representando a paixão de Cristo, com a curiosidade de a cruz ser em T, ou Tau, representação iconográfica invulgar. Ou à igreja de Santa Maria dos Olivais, onde os templários eram armados cavaleiros.
Subindo de novo para as bandas do castelo e do Convento de Cristo, encontramos a ermida da Senhora da Conceição. Há quem diga que foi construída para capela funerária de D. João III. Álvaro Barbosa diz que isso não é verdade: "Não tem dimensão para ser mausoléu", assegura, foi mesmo edificada como espaço de culto.

In: http://fugas.publico.pt/Viagens/288451_os-segredos-dos-templarios-que-tomar-desvenda?pagina=-1

domingo, 31 de julho de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - III

Do Paraíso ao inferno
Menos escondida, agora, está a Sinagoga de Tomar, depois de séculos destinada a outros fins. Está na Rua Dr. Joaquim Jacinto, antiga Rua Nova ou Rua da Judiaria. Hoje, o edifício de planta quadrangular é quase só um espaço de memória, a aguardar obras de recuperação.
Durante o seu consulado como grão-mestre da Ordem de Cristo e governador de Tomar, o Infante Dom Henrique chamou judeus para povoar a cidade e dinamizar a economia local. Deu-lhes um bairro e o direito a construir a sinagoga. Edificado entre 1430 e 1460, o lugar de oração seria desactivado décadas depois, após a expulsão dos judeus de Portugal - a Sefarad do judaísmo. Transformada em cadeia, capela e casa térrea, seria classificada como monumento nacional em 1921 e comprada, em 1923, por Samuel Schwarz, polaco e engenheiro de minas a trabalhar em Portugal, que estudou a comunidade de judeus escondidos de Belmonte. Em 1939, Schwarz doou a sinagoga ao Estado, mas para que nela fosse instalado um museu luso-hebraico.
Atravessando duas ruas, vamos descansar no Paraíso. O café completou um século a 20 de Maio. Situado na Rua Serpa Pinto (antiga Rua da Corredoura), é propriedade de Alexandra Vasconcelos, que o herdou dos pais, depois do avô e de um tio-bisavô. Um trocadilho local diz que, de manhã, o café é o paraíso, à tarde o purgatório e, à noite, o inferno. Alusão ao público predominante que o frequenta: reformados pela manhã e, progressivamente, um público cada vez mais jovem. Já mal se usam cafés assim: não há inox em sítio nenhum. Apenas madeira e ferro, espelhos, mesas em mármore, colunas e um pé direito altíssimo. Numa das paredes, recortes vários a falar do Paraíso. No tecto, duas ventoinhas. O conjunto tem, apesar da patine do tempo, um encanto especial.
Por aqui passa meia Tomar e Umberto Eco, o autor de "O Nome da Rosa", ia escrever numa das mesas, quando esteve na cidade há uns 15 anos. Com uma fachada em vidro (que transformou a fachada anterior, de quatro pórticos), o melhor do Paraíso, segundo a sua proprietária, é o facto de ser um espaço "arejado e ter um pé direito maravilhoso". "Intemporal."

In: http://fugas.publico.pt/Viagens/288451_os-segredos-dos-templarios-que-tomar-desvenda?pagina=-1