sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - I

Esta sala é quase secreta.
Tem que se ir buscar a chave, descer umas escadas meio escondidas e entrar numa ligeira penumbra que só a iluminação artificial pode quebrar. Ao fundo, abre-se um vão sobre a mata. Por ali sairiam cavaleiros, à procura de encontros secretos, lugares de fuga ou cerimónias ocultas. Para aceder à adega - seria aqui a adega do Convento de Cristo, em Tomar - descem-se sete degraus. Número mítico, símbolo da perfeição na linguagem bíblica. São degraus fora da proporção, que vão aumentando de altura de baixo para cima.
Também no tecto se podem ver símbolos relacionados com a figura da mãe de Jesus: rosas, conchas - antes de ser símbolo de Compostela, a concha era já símbolo de Nossa Senhora - remetem para Maria de Nazaré como vaso de vida, explica o arquitecto Álvaro José Barbosa, ex-director e actual conservador do Convento de Cristo.
Não se sabe a razão de, numa adega, encontrarmos esta decoração - que se repete na cozinha. Certo é que Nossa Senhora da Conceição foi invocada como padroeira da Ordem de Cristo quando, há sete séculos, esta herdou os membros e património dos Templários em Portugal.
A adega - que para alguns era, antes, uma sala de iniciação aos segredos templários - levava ao lado de fora. Ali estava a cerca do convento e a floresta, que já foi "tão densa" que estava vedada "não só aos olhos da vista mas também do espírito", como escrevia Fernão Álvares do Oriente na novela Lusitânia Transformada.
A Mata dos Sete Montes (que está a sofrer pequenas obras de beneficiação para reabrir a tempo da Festa dos Tabuleiros, no início de Julho) era o espaço rústico do convento, explica Álvaro Barbosa. Ali, os monges podiam isolar-se e o boticário podia também ir procurar as plantas para as mezinhas e outros remédios.
Voltamos a encontrar decoração noutro lugar simples como a cozinha. Flores, cálices, cruzes... "O símbolo destinava-se a exprimir conceitos", diz o ex-director do Convento. Provavelmente, acrescenta, seria um modo de levar os monges a recordar em permanência as razões da sua vida naquele lugar. Mas não há certezas. Sabe-se, no entanto, que o complexo constituído pelo Convento de Cristo e pelo Castelo de Tomar, incluindo a Mata dos Sete Montes, está ligado intimamente à História de Portugal.
Essa relação é dominada pela forte presença templária, já que os cavaleiros da Ordem do Templo são chamados a repovoar o território depois da sua conquista aos reinos muçulmanos. Gualdim Pais, mestre da ordem, é o promotor da construção do castelo de Tomar, em 1160. Mas também Almourol, Pombal, Atalaia, Langalhão, Dornes ou Cardiga são entregues aos templários.
Mais tarde, os templários dão lugar, em Portugal, à Ordem de Cristo, em 1319. E, um século depois, o seu grão-mestre será o Infante Dom Henrique, primeiro não-clérigo no cargo, que traz para a antiga casa militar do castelo, entretanto transformada em convento, um grupo de frades orantes. Mais 100 anos e o rei Dom Manuel faz do paço a sua residência favorita, promove o seu alargamento e manda fazer um corpo de igreja com coro alto e pintar a charola, além de outras obras. Com a rainha Catarina, mulher de Dom João III, o edifício torna-se palácio real.

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