Sob a intensa luz do sol que cobre de ouro e azul a imensidão do mar, este maciço calcário que se estende até á Serra da Arrábida, mais parece um monstro marinho que dorme sob os nossos pés. Não há vento, nem ninguém, apenas os olhos para admirar esta beleza absoluta e revelar o indizível, numa dualidade que se divide entre a natureza e a mão do homem. Os promontórios não são apenas acidentes geográficos da natureza, são também lugares de história, tradição e religião, reactualizados ao longo do tempo, na sequência das sucessivas ocupações, desde os povos pré-históricos, fenícios, romanos, muçulmanos e cristãos, sendo que o Cabo Espichel não fugiu á regra.
Para entendermos porque se chamou Cabo Barbárico, temos de recuar no tempo. Este promontório foi habitado por um povo, os sárrios, provenientes de Tiro, que aqui formaram uma colónia cuja capital era Salácia. É ao caldeu que se vai buscar a origem do nome “sárrio” ou tsar, que significa púrpuro. Os fabricantes destas cores eram chamados de tsarah, que os romanos, no seu idioma, deram o nome de barbarii, ou barbáricos. Assim o nome de Cabo Barbarium foi dado a este local que é hoje o Cabo Espichel.
No livro “Antiguidades da Lusitânia”, André de Resende descreveu que nestas paragens havia um certo género de marisco, dos quais se geravam uns bichinhos vermelhos como o sangue e aromáticos. Depois de secos, feitos em pó, serviam para tingir de púrpura ou o carmesim. Também, nasciam umas flores silvestres, que colhidas na primavera e depois de secas faziam a cor púrpura com que se vestiam os Imperadores. Assim, os mercadores romanos vinham ao promontório comercializar com os barbáricos a fina “grãn” que levavam para Roma e às feiras de Tiro por grande valor e estima.
Enquanto povo, procuravam as montanhas e os promontórios para instalarem as suas comunidades, acreditando que os deuses moravam em tais lugares. Os romanos, por outro lado, evitavam esses lugares, exactamente pelo mesmo motivo, criando colónias noutros locais. Porém, com o tempo e as sucessivas ocupações dos povos que por aqui passaram, a fé dos homens mudou e este lugar também.
O Santuário da Nossa Senhora da Pedra Mua ou Santuário do Cabo Espichel é um conjunto arquitectónico que envolve património edificado e património natural. A primeira categoria está directamente ligada à lenda da “Pedra Mua”, a versão mais conhecida remonta ao séc. XV, refere que a Nossa Senhora foi transportada numa jumentinha desde o mar até ao topo do cabo. É neste quadro, que as pegadas da jumentinha se cruzam com a identificação de pistas de dinossauros impressas na rocha. Toda esta carga simbólica proporcionou um terreno fértil para a tradição popular expressar a sua fé, culminando com o esplendor das romarias e festas consagradas à Nossa Senhora do Cabo Espichel.
O Santuário da Nossa Senhora da Pedra Mua ou Santuário do Cabo Espichel é um conjunto arquitectónico que envolve património edificado e património natural. A primeira categoria está directamente ligada à lenda da “Pedra Mua”, a versão mais conhecida remonta ao séc. XV, refere que a Nossa Senhora foi transportada numa jumentinha desde o mar até ao topo do cabo. É neste quadro, que as pegadas da jumentinha se cruzam com a identificação de pistas de dinossauros impressas na rocha. Toda esta carga simbólica proporcionou um terreno fértil para a tradição popular expressar a sua fé, culminando com o esplendor das romarias e festas consagradas à Nossa Senhora do Cabo Espichel.
Esta atmosfera religiosa à volta da lenda deu origem à mais antiga construção do santuário, a Ermida da Memória. É um pequeno templo quatrocentista de planta rectangular, simples e harmoniosa, onde no seu interior e na fachada sul figuram painéis de azulejos que narram o historial do santuário, sendo este imóvel edificado por iniciativa dos primeiros peregrinos.
A Igreja de Nossa Senhora do Cabo, datada do Séc. XVIII, construção de iniciativa da Casa Real Portuguesa, tem no interior da capela as paredes revestidas a mármore, destacam-se, ainda, os frescos e pinturas a óleo de estilo ilusionista de perspetiva, executadas por Lourenço da Cunha, as únicas que subsistem até hoje deste artista.
Ladeando o Santuário em corpos paralelos, temos a Casa dos Cirios ou simplesmente hospedarias, construídas também no Sec. XVIII, com o objectivo de substituir as casas dos romeiros que se dispunham em volta do antigo templo. Devido à grande afluência de peregrinos, D. José I mandou construir a Casa da Água a fim de abastecer o local, provindo a mesma da vizinha povoação da Azoia conduzida pelo Aqueduto.
Também edificada por D. José I, temos a Casa da Ópera, que incluía cenários e acomodações para público e artistas. Eram organizados espectáculos com companhias famosas para animar os festejos.
Não podemos esquecer o Farol, luz dos navegantes de outrora e de hoje. Já em 1430 a Irmandade deste santuário tinha instalado um farolim que antecedeu o que é hoje a actual Torre.
É esta dualidade que faz do Cabo Espichel um lugar especial. Entre o património construído de caracter religioso e militar e as escarpas erguidas de um mar intensamente azul, invocando assim o enigma da natureza primordial que ao longe vai beijar o Monte da Lua.
É esta dualidade que faz do Cabo Espichel um lugar especial. Entre o património construído de caracter religioso e militar e as escarpas erguidas de um mar intensamente azul, invocando assim o enigma da natureza primordial que ao longe vai beijar o Monte da Lua.
Autor: O. Florência
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