O sugestivo e bem eloquente relato bíblico da Torre de Babel (Génesis 11, 1-8) explicita que todas as línguas brotaram dum tronco comum. No que respeita ao Ocidente, dessa base têm partido os linguistas, ao considerarem o indo-europeu essa base donde tudo partiu.
Ao embrenhar-me no tema das divindades indígenas, pré-romanas, na mira de, através da análise etimológica dos teónimos, lhes determinar atributos e funções, à Linguística tive, pois, de recorrer. Um emaranhado de sugestões – adiante-se desde já – porque se lida com vocábulos fruto de longa evolução, cujo som e respectiva representação gráfica algo terão, necessariamente, de aleatório.
Uma convicção perfilho, hoje: o do importante papel da oralidade e da convivência. A transposição escrita do que se ouve está sujeita a inúmeras contingências (recorde-se o caso da senhora que se chama Prantilhana…); e não vale a pena, por isso, digladiarmo-nos por causa dum e ou dum i. A própria pronúncia da mesma palavra assume tonalidades diferentes, inclusive no Português, que é uma das línguas consolidadas há mais tempo no Ocidente europeu. Virá a talhe de foice recordar que, em relação ao Latim, há três possíveis pronúncias para, por exemplo, o nome Cicero: a (dita) restaurada, a ‘portuguesa’ e a romana!...
Derivado, sem dúvida, do Latim, o Português acolheu de boamente contributos do Grego, do Árabe, do Visigótico… e, já nos nossos dias, consignados no Dicionário da Academia, termos próprios de outros países europeus, do Brasil e dos PALOPS (daí, a ideia peregrina do tal acordo ortográfico…).
O lugar e o tempo constituem, consequentemente, coordenadas a ter em conta, mormente se pensarmos que, apesar de termos apenas duas línguas oficiais – o Português e o Mirandês – há ainda o barranquenho, o minderico e – porque não? – o falar algarvio, o falar gandarês….
O Brasil poderá ser também motivo de sugestiva análise, se atentarmos que, logo no aeroporto, quando chegamos, deparamos não com a indicação «tapete» mas o classicíssimo «esteira»; e a nossa ‘fotocópia’ é… xerox! A simbiose perfeita entre o conservadorismo vernáculo e a adopção sem peias do neologismo preciso.
Qual a origem da língua portuguesa, portanto? O Povo que desde há muito séculos a fala, em épocas e em lugares precisos. Uma origem que não devemos, por consequência, considerar estática nem no tempo nem no espaço – porque… está viva! E amadurece todos os dias!
Autor: Prof. Dr. José D'Encarnação
Sem comentários:
Enviar um comentário