É sabido que as primeiras civilizações estratificadas, da Idade dos Metais, surgiram na Ásia Menor (sumérios, milénio VI a.C.) e no norte de África (egípcios, milénio V a.C.). A Suméria ocupava o sul da Mesopotâmia - "terra entre rios"- entre os rios Tigre e Eufrates, junto ao Golfo Pérsico. Hoje, já se sabe que a escrita foi invenção dos sumérios (cuneiforme), além disso, os antigos sumérios criaram quase tudo: administração e justiça; formas políticas de governo; instrumentos de troca e de produção; formas de pensamento religioso; técnicas de construção.
A religião foi, na realidade, a base e o centro da
vida da Mesopotâmia, sendo, toda ela, originária da concepção religiosa da
Suméria, que remonta à era neolítica e que influenciou todos os povos antigos,
cuja religião era baseada em divindades cósmicas, principalmente no deus Sol.
Assim, na religião suméria, os três deuses fundamentais: Anu, rei do Céu,
Enlil, rei da Terra, e Ea, deus do Oceano; esses deuses primordiais criaram os
deuses astrais, que se ocupam directamente do homem: Chamach, deus-Sol, Sin
(deus-Lua, masculino) Ishtar, a deusa Vénus (relativa ao planeta) e Dumuzi,
deus agrário das mortes e ressurreições anuais dos vegetais, de acordo com o ciclo
do Sol. Foi dos sumérios, o primeiro culto solar da Humanidade na História,
embora já possa ter havido algum, na era neolítica da Pré-História. Como grandes
matemáticos, adquiriram grande conhecimento sobre a astronomia, prevendo
eclipses solares e lunares, aprendendo a plantar de acordo com as fases da Lua,
dividindo o ano em 12 meses lunares, os meses em semanas, a semana em sete dias
(cada um consagrado a um dos sete "planetas" da Antiguidade), o dia
em vinte e quatro horas, a hora em sessenta minutos e o minuto em sessenta segundos. Quando
elaboraram o seu sistema cosmológico, fizeram uso das doze constelações
principais, através das quais o Sol e a Lua passavam, regularmente, e que foram
as precursoras do zodíaco.
No Antigo Egipto, embora, houvesse variados conceitos
do deus-Sol, tendo, o astro diversas representações (Ámon, Rá, Hórus), era um
certo desvio para o monoteísmo, o deus do império unificado e o senhor do céu e
dos deuses. Havia somente um deus egípcio cuja importância era semelhante à do
deus-Sol: Osíris, deus da fertilidade e do reino dos mortos, cuja lenda,
baseada nos mitos solares - segundo a lenda, foi morto no 17º dia do mês Hator,
quando começava o Inverno - tinha grande aceitação entre o povo, preocupado com
o além, pois mostrava os mistérios da morte e da ressurreição. Já no terceiro
milénio a.C., os egípcios elaboraram um calendário solar, que era o mais
perfeito da Antiguidade, permitindo-lhes, inclusive, prever as cheias do rio
Nilo. O rio era a fonte de toda a vida e os egípcios acreditavam que as cheias
eram activadas pela acção combinada do Sol e de Sirius, tendo esta estrela,
assumido grande importância. As pirâmides, construídas durante a III Dinastia
do Antigo Egipto, tinham dupla finalidade: monumentos funerários e calculadores
astrológicos. Ao faraó Ramsés II, um dos maiores do Novo Egipto, é atribuída a
responsabilidade pelo estabelecimento dos quatro signos cardeais do Zodíaco:
Carneiro, Balança, Caranguejo e Capricórnio.
À Europa, a civilização chegou depois. Basta dizer
que, na época do surgimento dos monumentos megalíticos, ou seja, dois milénios
a.C., a região era primitiva, sendo habitada por um povo - chamado, pelos
arqueólogos, de povo beaker - que ainda estava no início da Idade dos Metais e
que ainda não tinha meios de registar o seu conhecimento. Nessa época, o Egipto
já iniciava o seu Médio Império e, na Grécia arcaica, já começara a civilização
micénica. E seria exactamente na Grécia que a astronomia e a astrologia teriam
grande impulso, deixando o empirismo anterior.
Ao povo beaker,
muito anterior aos druidas, atribuem-se os menires (monumentos megalíticos)
europeus e, principalmente, o famoso conjunto de Stonehenge. Mesmo primitivo,
desenvolveram um sofisticado método de calcular um calendário de precisão
surpreendente, anunciando eclipses e assinalando solstícios, dos quais os
menires são provas irrefutáveis. As imensas pedras de Stonehenge, com cinco
toneladas cada uma, foram extraídas dos montes de Gales, e transportadas até á
planície de Salisbury, a 380 quilómetros de distância. Constituído de
diversos blocos, formando semicírculos e fechado por um anel de pedras, com distâncias
regulares entre elas, o monumento foi submetido, a análises computorizadas, que
revelaram uma grande variação de alinhamentos, mostrando que ele é, na
realidade, um grande computador astrológico.
No entanto, 2000 anos antes de Stonehenge foi
erigido o recinto megalítico dos Almendres, Évora, Alentejo, sendo o maior
monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais antigos monumentos da
Humanidade.
Foi construído há cerca de 7000 anos, nos alvores do
Neolítico, a época em que surgiram, na Europa ocidental, as primeiras
comunidades de pastores e agricultores, no contexto de profundas transformações
culturais.
O recinto dos Almendres cuja planta original era,
muito provavelmente, em forma de ferradura, aberta a nascente, parece ter
sofrido acrescentos e remodelações: a forma actual do monumento, relativamente
complexa, resulta, por um lado, dessas intervenções antigas e, por outro, de
amputações e perturbações muito recentes. Actualmente, conta com cerca de uma
centena de monólitos, alguns deles decorados.
A escolha dos lugares em que estes monumentos foram
erigidos, teve seguramente em conta a estrutura física da paisagem,
nomeadamente a rede hidrográfica, mas também os fenómenos astronómicos mais
notórios, relacionados com os movimentos anuais do Sol e da Lua, no horizonte.
Os celtas vieram depois do povo beaker. Os druidas
eram membros de um culto sacerdotal entre os antigos celtas, na Inglaterra,
França e Irlanda, cujos sacerdotes adoravam vários deuses semelhantes aos do
panteão greco-romano, mas com nome diferentes, reunindo-se nas florestas, ou em
cavernas. Na verdade, pouco se conhece sobre os rituais dos druidas, o que tem
gerado muita especulação, sem nenhuma comprovação. Eles consideravam o meio-dia
e a meia-noite como horas sagradas, o que não era novidade, assim como algumas
árvores, como o carvalho. E, geralmente faziam predições através da
interpretação do vôo dos pássaros e de sinais encontrados nas vísceras de
animais sacrificados; e podem ter usado Stonehenge como lugar de culto. Foram
destruídos, na Inglaterra no ano 78 da era actual pelos romanos. Na Irlanda sobreviveram
até ao século V, quando foram expulsos com a expansão do cristianismo.
Importa considerar que os rituais solares, inclusive
os solstícios, eram muito mais antigos do que os druidas. Considerando que
pouco se conhece sobre os rituais druidas, que eram secretos e transmitidos
oralmente, a interpretação de seu pensamento fica no terreno especulativo, ou da
imaginação de muitos autores.
Este
simbolismo cósmico tradicional foi herdado dos povos mesopotâmicos, cujos
saberes acumulados parecem ter atingido o expoente máximo na antiguidade.
Tradição mais tarde veiculada pelos egípcios, que por sua vez a transmitiram
aos gregos. Dizia Platão no seu Timeu: ”O dia e a noite, ao desvendarem os
meses, as revoluções dos anos, os equinócios e os solstícios, formaram pela sua
combinação o número, e deram-nos a noção do tempo e o meio para especular sobre
a natureza do universo. Daí, nós retirámos um tipo de filosofia que é o maior
bem que nos chegou e que jamais virá a nós pela liberalidade dos deuses”.
Segundo Platão, o Conhecimento não se adquire por outro meio que não seja pela
Iniciação. A busca do Conhecimento é caminho árduo e não uma benesse dos
deuses.
Aproxima-se
mais um Solstício de Inverno, em que viveremos a noite mais longa do ano, no
nosso hemisfério, como que num recolhimento uterino desejado.
O
Sol afastou-se do hemisfério norte. O Inverno é a época para semear.
Os
frutos da colheita anterior já se encontram recolhidos.
É
o momento para seleccionar os melhores frutos, obter as suas sementes e voltar
a semear, porque há frutos que se estragaram, apodreceram ou não se
desenvolveram. Há que eliminar estes e guardar os melhores.
Há
mais frio e mais escassez de tudo.
Os
membros da tribo reúnem-se à volta da fogueira onde há luz e calor. O fogo é a
representação do Sol que se ausentou.
Juntos
apoiam-se e compartilham do que têm. O momento transforma-se então, em
celebração e cerimónia.
É
a noite da solidariedade, do amor e da esperança!
Que
este Solstício nos traga de volta à comunhão com as coisas do Universo e com o
Universo das coisas da Natureza…
Que
as luzes dos centros comerciais e outros holofotes não sejam demasiado
ofuscantes e nos permitam, ainda, uma certa dose de humanidade e de
reconciliação dos afectos…
Que
a esperança se faça verbo, imagem e certeza….
Estamos
convosco, desejando-Vos um Solstício de Luz e saudando o RENASCIMENTO de todos
Nós.
A. Pires
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