quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Fernão de Magalhães



Chegar ao fim 
Era o princípio, 
Por tal morreu 
Ante novo ciclo… 

Cumpriu-se o sonho, 
Cumpriu-se a prova; 
Redonda sempre seria 
A sua nova. 

De Magalhães 
Fernão era 
Redondo círculo… 
O seu fim, 
Nunca seria 
O seu princípio… 

Fernão, incorporara no mar, 
Um país de sonhos feito, 
Para apenas um Estreito 
O relembrar.

Autor: Jónatas

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Solstício de Inverno

É sabido que as primeiras civilizações estratificadas, da Idade dos Metais, surgiram na Ásia Menor (sumérios, milénio VI a.C.) e no norte de África (egípcios, milénio V a.C.). A Suméria ocupava o sul da Mesopotâmia - "terra entre rios"- entre os rios Tigre e Eufrates, junto ao Golfo Pérsico. Hoje, já se sabe que a escrita foi invenção dos sumérios (cuneiforme), além disso, os antigos sumérios criaram quase tudo: administração e justiça; formas políticas de governo; instrumentos de troca e de produção; formas de pensamento religioso; técnicas de construção.

A religião foi, na realidade, a base e o centro da vida da Mesopotâmia, sendo, toda ela, originária da concepção religiosa da Suméria, que remonta à era neolítica e que influenciou todos os povos antigos, cuja religião era baseada em divindades cósmicas, principalmente no deus Sol. Assim, na religião suméria, os três deuses fundamentais: Anu, rei do Céu, Enlil, rei da Terra, e Ea, deus do Oceano; esses deuses primordiais criaram os deuses astrais, que se ocupam directamente do homem: Chamach, deus-Sol, Sin (deus-Lua, masculino) Ishtar, a deusa Vénus (relativa ao planeta) e Dumuzi, deus agrário das mortes e ressurreições anuais dos vegetais, de acordo com o ciclo do Sol. Foi dos sumérios, o primeiro culto solar da Humanidade na História, embora já possa ter havido algum, na era neolítica da Pré-História. Como grandes matemáticos, adquiriram grande conhecimento sobre a astronomia, prevendo eclipses solares e lunares, aprendendo a plantar de acordo com as fases da Lua, dividindo o ano em 12 meses lunares, os meses em semanas, a semana em sete dias (cada um consagrado a um dos sete "planetas" da Antiguidade), o dia em vinte e quatro horas, a hora em sessenta minutos e o minuto em sessenta segundos. Quando elaboraram o seu sistema cosmológico, fizeram uso das doze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua passavam, regularmente, e que foram as precursoras do zodíaco.

No Antigo Egipto, embora, houvesse variados conceitos do deus-Sol, tendo, o astro diversas representações (Ámon, Rá, Hórus), era um certo desvio para o monoteísmo, o deus do império unificado e o senhor do céu e dos deuses. Havia somente um deus egípcio cuja importância era semelhante à do deus-Sol: Osíris, deus da fertilidade e do reino dos mortos, cuja lenda, baseada nos mitos solares - segundo a lenda, foi morto no 17º dia do mês Hator, quando começava o Inverno - tinha grande aceitação entre o povo, preocupado com o além, pois mostrava os mistérios da morte e da ressurreição. Já no terceiro milénio a.C., os egípcios elaboraram um calendário solar, que era o mais perfeito da Antiguidade, permitindo-lhes, inclusive, prever as cheias do rio Nilo. O rio era a fonte de toda a vida e os egípcios acreditavam que as cheias eram activadas pela acção combinada do Sol e de Sirius, tendo esta estrela, assumido grande importância. As pirâmides, construídas durante a III Dinastia do Antigo Egipto, tinham dupla finalidade: monumentos funerários e calculadores astrológicos. Ao faraó Ramsés II, um dos maiores do Novo Egipto, é atribuída a responsabilidade pelo estabelecimento dos quatro signos cardeais do Zodíaco: Carneiro, Balança, Caranguejo e Capricórnio.

À Europa, a civilização chegou depois. Basta dizer que, na época do surgimento dos monumentos megalíticos, ou seja, dois milénios a.C., a região era primitiva, sendo habitada por um povo - chamado, pelos arqueólogos, de povo beaker - que ainda estava no início da Idade dos Metais e que ainda não tinha meios de registar o seu conhecimento. Nessa época, o Egipto já iniciava o seu Médio Império e, na Grécia arcaica, já começara a civilização micénica. E seria exactamente na Grécia que a astronomia e a astrologia teriam grande impulso, deixando o empirismo anterior.

Ao povo beaker, muito anterior aos druidas, atribuem-se os menires (monumentos megalíticos) europeus e, principalmente, o famoso conjunto de Stonehenge. Mesmo primitivo, desenvolveram um sofisticado método de calcular um calendário de precisão surpreendente, anunciando eclipses e assinalando solstícios, dos quais os menires são provas irrefutáveis. As imensas pedras de Stonehenge, com cinco toneladas cada uma, foram extraídas dos montes de Gales, e transportadas até á planície de Salisbury, a 380 quilómetros de distância. Constituído de diversos blocos, formando semicírculos e fechado por um anel de pedras, com distâncias regulares entre elas, o monumento foi submetido, a análises computorizadas, que revelaram uma grande variação de alinhamentos, mostrando que ele é, na realidade, um grande computador astrológico.

No entanto, 2000 anos antes de Stonehenge foi erigido o recinto megalítico dos Almendres, Évora, Alentejo, sendo o maior monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais antigos monumentos da Humanidade.
Foi construído há cerca de 7000 anos, nos alvores do Neolítico, a época em que surgiram, na Europa ocidental, as primeiras comunidades de pastores e agricultores, no contexto de profundas transformações culturais.

O recinto dos Almendres cuja planta original era, muito provavelmente, em forma de ferradura, aberta a nascente, parece ter sofrido acrescentos e remodelações: a forma actual do monumento, relativamente complexa, resulta, por um lado, dessas intervenções antigas e, por outro, de amputações e perturbações muito recentes. Actualmente, conta com cerca de uma centena de monólitos, alguns deles decorados.
A escolha dos lugares em que estes monumentos foram erigidos, teve seguramente em conta a estrutura física da paisagem, nomeadamente a rede hidrográfica, mas também os fenómenos astronómicos mais notórios, relacionados com os movimentos anuais do Sol e da Lua, no horizonte.

Os celtas vieram depois do povo beaker. Os druidas eram membros de um culto sacerdotal entre os antigos celtas, na Inglaterra, França e Irlanda, cujos sacerdotes adoravam vários deuses semelhantes aos do panteão greco-romano, mas com nome diferentes, reunindo-se nas florestas, ou em cavernas. Na verdade, pouco se conhece sobre os rituais dos druidas, o que tem gerado muita especulação, sem nenhuma comprovação. Eles consideravam o meio-dia e a meia-noite como horas sagradas, o que não era novidade, assim como algumas árvores, como o carvalho. E, geralmente faziam predições através da interpretação do vôo dos pássaros e de sinais encontrados nas vísceras de animais sacrificados; e podem ter usado Stonehenge como lugar de culto. Foram destruídos, na Inglaterra no ano 78 da era actual pelos romanos. Na Irlanda sobreviveram até ao século V, quando foram expulsos com a expansão do cristianismo.
Importa considerar que os rituais solares, inclusive os solstícios, eram muito mais antigos do que os druidas. Considerando que pouco se conhece sobre os rituais druidas, que eram secretos e transmitidos oralmente, a interpretação de seu pensamento fica no terreno especulativo, ou da imaginação de muitos autores.

Este simbolismo cósmico tradicional foi herdado dos povos mesopotâmicos, cujos saberes acumulados parecem ter atingido o expoente máximo na antiguidade. Tradição mais tarde veiculada pelos egípcios, que por sua vez a transmitiram aos gregos. Dizia Platão no seu Timeu: ”O dia e a noite, ao desvendarem os meses, as revoluções dos anos, os equinócios e os solstícios, formaram pela sua combinação o número, e deram-nos a noção do tempo e o meio para especular sobre a natureza do universo. Daí, nós retirámos um tipo de filosofia que é o maior bem que nos chegou e que jamais virá a nós pela liberalidade dos deuses”. Segundo Platão, o Conhecimento não se adquire por outro meio que não seja pela Iniciação. A busca do Conhecimento é caminho árduo e não uma benesse dos deuses.

Aproxima-se mais um Solstício de Inverno, em que viveremos a noite mais longa do ano, no nosso hemisfério, como que num recolhimento uterino desejado.

O Sol afastou-se do hemisfério norte. O Inverno é a época para semear.
Os frutos da colheita anterior já se encontram recolhidos.
É o momento para seleccionar os melhores frutos, obter as suas sementes e voltar a semear, porque há frutos que se estragaram, apodreceram ou não se desenvolveram. Há que eliminar estes e guardar os melhores.

Há mais frio e mais escassez de tudo.
Os membros da tribo reúnem-se à volta da fogueira onde há luz e calor. O fogo é a representação do Sol que se ausentou.
Juntos apoiam-se e compartilham do que têm. O momento transforma-se então, em celebração e cerimónia.
É a noite da solidariedade, do amor e da esperança!

Que este Solstício nos traga de volta à comunhão com as coisas do Universo e com o Universo das coisas da Natureza…

Que as luzes dos centros comerciais e outros holofotes não sejam demasiado ofuscantes e nos permitam, ainda, uma certa dose de humanidade e de reconciliação dos afectos…
Que a esperança se faça verbo, imagem e certeza….

Estamos convosco, desejando-Vos um Solstício de Luz e saudando o RENASCIMENTO de todos Nós.

A. Pires

sábado, 17 de dezembro de 2011

Cesária Évora 1941 - 2011

Cesária Évora nasceu na cidade de Mindelo, em Cabo Verde. Tinha mais quatro irmãos. O seu pai Justino da Cruz tocava cavaquinho, violão e violino. Quando jovem foi viver com sua avó, que havia sido educada por freiras, e assim acabou passando por uma experiência que a ensinou a desprezar a moralidade excessivamente severa.

Entre os seus amigos estava B. Leza, o compositor favorito dos cabo-verdianos, que faleceu quando ela tinha apenas sete anos de idade. Desde cedo, Cise, como era conhecida pelos amigos, começou a cantar e a fazer actuações aos domingos na praça principal da sua cidade, acompanhada pelo seu irmão Lela, no saxofone. Mas a sua vida está intrinsecamente ligada ao bairro do Lombo, nas imediações do quartel do exércio português, onde cantou com compositores como Gregório Gonçalves. Aos 16 anos, Cesária começou a cantar em bares e hotéis e, com a ajuda de alguns músicos locais, ganhou maior notoriedade em Cabo Verde, sendo proclamada a "Rainha da Morna" pelos seus fãs.

Aos vinte anos foi convidada a trabalhar como cantora para o Congelo - companhia de pesca criada por capital local e português -, recebendo conforme as actuações que fazia. Em 1975, ano em que Cabo Verde adquiriu a independência, Cesária, frustrada por questões pessoais e financeiras, aliados à dificuldade económica e política do jovem país, deixou de cantar para sustentar sua família. Durante este período, que se prolongou por dez anos, Cesária teve de lutar contra o alcoolismo. Igualmente, Cesária chamou a esse período de tempo, os seus Dark Years.

Cabo Verde, um francês chamado José da Silva persuadiu-a a ir para Paris e lá acabou por gravar um novo álbum em 1988 "La diva aux pied nus" (a diva dos pés descalços) - que é como se apresenta nos palcos. Este álbum foi aclamado pela crítica, levando-a a iniciar a gravação do álbum "Miss Perfumado" em 1992. Desde então fixou residência na capital francesa. Cesária tornou-se uma estrela internacional aos 47 anos de idade.
Em 2004 conquistou um prémio Grammy de melhor álbum de word music contemporânea. O Esatdo francês, distinguiu-a em 2009, com a medalha da Legião de Honra entregue pela ministra da Cultura francesa Christine Albanel.

Em Setembro de 2011, depois de cancelar um conjunto de concertos por se encontrar muito debilitada, a sua editora, Lusafrica, anunciou que a cantora pôs um ponto final na sua longa carreira. Faleceu no dia 17 de Dezembro de 2011.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Fausto – Novo Álbum

Em Novembro, Fausto Bordalo Dias editou o último capítulo da trilogia da sua obra discográfica. Apresentado em formato disco-duplo, o novo álbum de Fausto encerra de forma mágica um trabalho único iniciado na década de 80.

Fausto Bordalo Dias conclui a trilogia que começou com a edição do disco «Por Este Rio Acima», em1982, e prosseguiu com «Crónicas da Terra Ardente», em 1994. Se os primeiros trabalhos abordavam a saída dos portugueses em direcção a África e à Índia, e a sua viagem marítima até lá, o novo trabalho descreve a entrada em terra firme através do continente africano.

A conclusão do tríptico reforça a importância máxima da criação de Fausto. Não só num formato de retrospectiva da história de Portugal, mas incidindo muito profundamente no tempo presente e nas relações mantidas entre Portugal e o continente africano, num momento de reflexão sociológico, musical e político que sempre fez parte do código de composição de Fausto Bordalo Dias.

Em termos musicais o disco eleva o patamar para uma nova descoberta de abordagens à música tradicional portuguesa, num trabalho intenso que Fausto tem mantido ao longo da sua carreira.

Sendo um disco há muito tempo aguardado, as expectativas são enormes em torno deste regresso de um artista considerado por muitos como um dos patrimónios indispensáveis da história da música portuguesa.


domingo, 27 de novembro de 2011

Fado é Património Imaterial da Humanidade

Painel do Fado por José Malhoa

Fado do marinheiro 

Perdido lá no mar alto
Um pobre navio andava;
Já sem bolacha e sem rumo 
A fome a todos matava. 

Deitaram a todos as sortes 
A ver qual d'eles havia 
Ser pelos outros matado 
P´ró jantar daquele dia 

Caiu a sorte maldita 
No melhor moço que havia; 
Ai como o triste chorava 
Rezando à Virgem Maria. 

Mas de repente o gageiro, 
Vendo terra pela prôa, 
Grita alegre pela gávea: 
Terras , terras de Lisboa. 

Cancioneiro popular

domingo, 20 de novembro de 2011

Debate sobre a Reforma do Poder Local

Decorreu no passado dia 19, no Palácio Valenças, em Sintra, um debate promovido pela Alagamares - Associação Cultural em torno da reforma da Administração Local, despoletado pelo designado Documento Verde, e que vai implicar alterações não só no mapa das freguesias, como no número de eleitos e na reconfiguração do modelo eleitoral e competências das autarquias. Decorre desse documento que Sintra verá agrupadas 5 das suas actuais freguesias (Montelavar, Pêro Pinheiro, S.Maria e S.Miguel, S.Pedro de Penaferrim e S.Martinho), reduzidos os vereadores de 10 para 8, e reconfigurado o quadro de dirigentes municipais, de acordo com critérios aí definidos no sentido da sua diminuição.

Com uma plateia interessada, e juntando pela primeira vez em torno deste tema representantes dos partidos políticos com assento na Assembleia Municipal, a sessão durou várias horas e contou com a participação de diversos e empenhados munícipes.

sábado, 12 de novembro de 2011

O Silêncio dos Cobardes


“E a alma Maubere acordou...”
Esteve aferrolhada em Salemba,
No rosto das viúvas,
No olhar das crianças,
No silêncio dos trilhos,
Nos cumes de Ramelau,
Nas lágrimas não caídas,
No cemitério de Santa Cruz,
Nos assassínios em massa,
Na destruição dos lares,
No crocodilo que atravessou oceanos
e silenciosamente olhou os poderosos...
Mas o sol nascia todas as manhãs
Tocando as asas dos Loricos,
Tocando os bambús, tocando os cafezais,
Tocando o coração dos resistentes
Como uma oração muda
Que silenciosamente ficava
Nas máquinas dos fotógrafos.

Nas montanhas os bravos resistiam;
Os sonhos dos mártires povoavam-nas:
Nicolau Lobato – Presente!
Espírito Santo – Presente!
Borja da Costa – Presente!
Konis Santana – Presente!
E um a um respondiam à chamada
Do impossível que estava ali à mão,
E o caos do silêncio aumentou,
Espalhou-se pelas nuvens, pelos ventos,
Que atravessaram continentes
E tocaram o silêncio cobarde de outros homens.
O mundo acordou a olhar o crocodilo
Que trazia nele o sonho dos Bravos:
Resistir é Vencer. A Pátria é Hoje e Sempre.

Autor: Jónatas

Massacre de Santa Cruz foi há 20 anos - a Justiça continua por fazer!

A 12 de novembro de 1991 mais de 2.000 pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em Outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.
No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão.
Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2.261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.
201 pessoas foram massacradas.
A maior parte dos corpos continua em parte incerta!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CONFERÊNCIAS DO MONTE DA LUA

Em conformidade com os princípios e valores e de acordo com o objecto social da génese de formação da VITRIOL – estimular, apoiar e incentivar a realização de projectos de investigação científica, organizar eventos, conferências, workshops, acções de formação que viabilizem a informação e sensibilização da opinião pública para o desenvolvimento da língua e cultura portuguesa nas suas diversas expressões - foi decidido a realização das CONFERÊNCIAS DO MONTE DA LUA.
As Conferências estão organizadas em três vertentes fundamentais:

a) Convidar um Orador que aborde um tema alusivo ao património, cultura e língua Lusófona;

b) Realização de um Jantar/Conferência para apresentar o tema, seguido de debate;

c) Efectuar um Roteiro/Visita para visualizar, integrar e conhecer os locais e património do tema apresentado;

Pretende-se estimular, apoiar e incentivar a realização de projectos de investigação científica, eventos, acções de formação que viabilizem a informação e sensibilização da opinião pública para o desenvolvimento da língua e cultura portuguesa nas suas diversas expressões, na defesa da mais elementar liberdade, justiça social, igualdade para proporcionar a todos os Cidadãos o acesso à língua e à cultura Portuguesa e ao mundo da Lusofonia.

Autor: VITRIOL - ASSOCIAÇÃO PARA A DIVULGAÇÃO E PROMOÇÃO DA LÍNGUA E CULTURA LUSÓFONA

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A VITRIOL entrevista João Rodil

A Associação Vitriol foi a Sintra ao encontro de João Rodil, historiador, investigador na área de história, etnografia e literatura, com obras publicadas sobre a história da região de Sintra, partilhando os segredos que esta Serra sagrada encerra e tem-se dedicado ao longo de vários anos a esculpir uma outra montanha - a do imaginário dos homens, com o seu amor pela beleza da paisagem, património e cultura.
E, foi numa atmosfera de quase Outono, fim de tarde na “Vila Velha”, com um sol já tímido espreitando entre as folhas e um fresco vindo da Serra apelando a um chá quente e uma queijada, que se iniciou uma agradável conversa com João Rodil em que a Vitriol colocou algumas questões:

Vitriol – Para si, enquanto homem e historiador, que importância e significado tem Sintra?

João Rodil – Bom, Sintra, em primeiro lugar, é a minha terra. E isso tem um significado tanto maior quanto o amor que temos por ela. Ou seja, se dedicamos uma vida à terra amada, se vivenciamos, quotidianamente, a paisagem, os pergaminhos e os mistérios de Sintra, então quer dizer que a terra possui um lugar proeminente no nosso crescimento e desenvolvimento humano! Eu sinto-me parte integrante da geografia de Sintra e tenho a certeza de que Sintra faz parte do meu corpo.
Enquanto homem interessado pela História, Sintra é um verdadeiro livro aberto a muitos passados, a múltiplos segredos, um imenso caldeirão de culturas, de tolerâncias, de perspectivas estéticas e filosóficas. E bastaria isso para que eu me apaixonasse por Sintra, mesmo que não fosse autoctone. Mas Sintra é, também, um lugar com espírito, com um querer muito próprio, difícil de entender porque ora se esconde nas brumas, ora se revela num brilho espelendoroso que nos ofusca. Creio que para se penetrar verdadeiramente em Sintra, é necessário acreditar na sua transcendência…

Vitriol – O que acha que deveria ser feito para que as pessoas tivessem um maior e mais fácil acesso à cultura em Sintra?

João Rodil – Falta fazer tudo, e esse tudo é quase nada. Quero eu dizer com isto que, como a maior parte das pessoas, quando vêm a Sintra, trazem já com elas uma grande apetência cultural. Vem-se a Sintra para levar um banho de cultura. Ora, acho eu que bastaria aos políticos aproveitarem essa apetência pessoal, recebendo-as de braços abertos, promovendo os valores patrimoniais, os artistas de todas as estéticas e formas, proporcionando, enfim, um verdadeiro encontro cultural onde Sintra seria um imenso palco. Pode parecer utópico, mas Sintra tem condições, história e magia que baste para se tornar, sem grande esforço, num dos clusters culturais mais importantes do Mundo. Agora, é preciso vontade política… e paixão… e saber.

Vitriol – Com tantas figuras ligadas à História de Sintra, qual é aquela que tem mais peso para si?


João Rodil – Essa é uma pergunta difícil! É que eu não tenho uma personalidade preferida, tenho muitas e em várias épocas. Vamos ver, então se consigo limitar o rol, para não maçar muito. Na História, tenho que destacar a Rainha Santa Isabel e D. Dinis, ela por nos ter iniciado no Culto do Divino Espírito Santo e ele por ter sido «o plantador das naus a haver». Também acrescento a Ínclita Geração, com D. João I e D. Filipa à cabeça; o D. Afonso V, esse rei templário meu conterrâneo; D. Manuel I, sobretudo pelo amor que dedicou a Sintra e pela forma como lhe aumentou o património. E D. João de Castro, o vice-rei místico da Penha Verde, símbolo da honra e da nobreza lusa. Mas tenho que dar primazia a um rei estrangeiro, mais português que muitos portugueses: D. Fernando II, o príncipe da Baviera que fez de Sintra o cenário dos seus sonhos mítico-mágicos. Que misturou todas as culturas e todas as árvores do mundo e as plantou – árvores e culturas – no alto da Serra da Lua, a dizer-nos que é essa a nossa grande bandeira, a da tolerância cultural, étnica e religiosa.

Na Literatura, ainda a minha lista é maior. Dói-me o coração só de pensar que vou ter que reduzi-la. Bem, começo pelo Mestre, Gil Vicente, o poeta que melhor cantou a mitologia dos portugueses. João de Barros, aquele mesmo que nos contou a «Crónica do Imperador Clarimundo». Camões, o amor e a saudade que o ligou a Sintra; Frei Heitor Pinto, o grande clássico preso e assassinado por Filipe II de Espanha, que na hora da prisão lançou aos castelhanos o fogo mais sincrético da alma lusitana, dizendo: «Pode D. Filipe meter a mim em Castela. Não pode meter Castela em mim.»
E que dizer de Garrett, de Herculano, de Camilo? Tanta coisa, tantos versos, tanta veneração por Sintra. E Ramalho, Antero e Eça de Queirós, com as suas peregrinações a Sintra, e páginas belíssimas da nossa Literatura dedicadas a esta terra. E Teixeira de Pascoaes, o poeta do saudosísmo, único movimento filosófico genuinamente português; Mário Beirão, Afonso Lopes Vieira e tantos outros que o acompanharam. E depois Fernando Pessoa e os seus encontros secretos com Alister Crowley; e, sobretudo, Almada Negreiros, esse «menino com olhos de gigante» que tão bem soube cantar os mistérios de Sintra. É melhor parar por aqui, ou corro o risco de nunca mais parar…

Vitriol – Qual é o seu sonho como português?


João Rodil – O meu sonho, e não será só o meu, é que Portugal se cumpra! É o que falta, como diz o Pessoa. Repare, nós fomos o país que levou a Europa ao Mundo e que trouxe o Mundo à Europa. E agora (nos últimos trinta e cinco anos) que fazemos (faremos?) parte da Europa, andamos meio perdidos, sem rumo definido, sem sabermos muito bem qual é o nosso papel nesta nova cena dramática que é a União Europeia. Ou seja, nós que transportámos a Europa às costas, andamos agora às cavalitas da Europa.

Apenas em um momento – um, apenas – e esporadicamente e de forma breve e frouxa e mais dois ou três, Portugal se cumpriu nestes últimos anos. E esse momento único foi na luta nacional, que soubemos transformar numa luta global, pela independência de Timor. E aí, fomos inteiros, fomos nós, iguais aos portugueses dos Descobrimentos. É que se há alguma coisa em que somos bons é nesta coisa de levar e trazer, de negociar, ou melhor, de dialogar e colocar os outros em diálogo. Por isso, acho que o grande papel de Portugal no Mundo de hoje é diplomático. E para desempenharmos bem esse papel é preciso que sejamos todos embaixadores dos valores que nos definem a alma, e que tenhamos a consciência plena daquilo que somos e quanto valemos. Então, só então, Portugal se cumprirá.

Autor: O. Florência

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um povo...Um mito!

Gabriel Pereira de Castro (1571-1632), deificou Portugal e o seu povo, ao apresentar Lisboa como a cidade fundada por Ulisses no seu longo poema épico intitulado "Ulisseia ou Lisboa Edificada", onde são enaltecidos vários aspectos das tradições históricas de Portugal, conferindo assim maior glória à cidade de Lisboa perante o mundo e por ter sido a partir dela que se alargaram os mares pondo fim ao Velho Mundo.  
 
O poema foi publicado por seu irmão Luís Pereira de Castro em 1636.
Canto I
As Armas e o Varão que os mal seguros
Campos cortou do Egeu e do Oceano,
que por perigos e trabalhos duros
eternizou seu nome soberano:
A grã Lisboa e seus primeiros muros
(De Europa e largo Império Lusitano
Auta Cabeça), se eu pudesse tanto
Pátria, o Mundo, à Eternidade canto.

Lembra-me Musa as cousas e me inspira,
como por tantos mares o prudente
Grego, vencendo de Neptuno a ira,
chegou no Tejo à túmida corrente;
ouvirá o som da lusitana lira,
o negro ocaso e lúcido oriente
se tu dás ser a meu sujeito falto,
para que caiba em mim furor tão alto.



Fernando Pessoa no seu poema "Ulisses" - Mensagem, escrito entre 1913 e 1934 mostra como o futuro glorioso de Portugal poderá concretizar-se através da vivência do mito e da energia criadora que ele liberta.

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.



Estes dois poetas, de épocas diferentes, colocaram o povo português como descendentes de deuses, Ulisses tem no sulcar dos mares mais do um sucessor e em Ulisseia constituiu-se uma comunidade de Homens capazes que se reconhecem no mito fundador e que ostentam a marca de descobridores até aos confins dos mares.
O mar, esse deixou de ser apenas um mar sem fim e tenebroso, mas sim, um Novo Mundo em que os homens espalhados pelo horizonte inteiro passaram a estar ligados pelo oceano.
Ulisses, se bem que não tenha existido foi elevado à condição de mito, essa figura lendária foi suficiente para que o povo português se sentisse projectado para a grandeza que tem e que poderá ainda ter, onde o que verdadeiramente importa não é a existência real dele, mas aquilo que ele pode representar.
Assim, o mito, este ou outro, vem dos confins do tempo e como uma força obscura, penetra na nossa realidade presente, infiltra-se como um sinal divino nas nossas vidas, que desligada essa força mágica, ficamos reduzidos a menos que nada, “metade de nada” como escreveu Fernando Pessoa, condenados fatalmente a nada.


Autor: O. Florência

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pontífices da Fraternidade


Intróito

Entre o sete e o oito
Enquanto os rios seguem os caminhos da serpente,
Os homens criam ritos, mitos
Que se entrelaçam brilhando
Com a Estrela d’Alva em cima e S. João em baixo,
Com a sua ovelha ao colo.
Ousemos nós ser pastores de rebanhos
Nas colinas dos seus montes,
Com eles subir aos castelos e passar as suas pontes;
Entre duas cidades com rios
E homens de bons costumes.

Línguas diferentes e usos diferentes,
Mas com o mesmo Sol, a mesma Lua,
O mesmo Delta Luminoso;
As mesmas pedras polidas: cantos de canteiro,
Correndo, dançando, cantando,
Serpenteando colinas, castelos e pontes
De pedra e ferro feitas,
Por mãos de pedreiro,
Pontífices da Fraternidade.

Ousemos nós ser
Mais que o caminho,
Homens palmilhando o seu destino
E que mais não houvesse que o sonho
Esse bastava,
Para criar nós de amor.

O oito
Duas cidades, dois rios
Vão de Ketter a Malkut,
Duas coroas e dois reinos
Ligam a Terra aos Céus.

Rios serpenteando colinas e castelos,
Caminhos da serpente.
Que criam ritos e mitos
No imaginário humano,
Que entrelaçam infinitos
Na árvore que esta vida é:
Vera árvore da vida,
Forjada de ferro e de aço
E de pedra trabalhada,
Com cinzel e com o maço,
Os homens constroem pontes
Que passam os impossíveis
E criam laços em nós,
Amarras de corações
Que vão para lá de nós.

Duas cidades, dois rios
E homens de bons costumes;
Ousem eles ser pastores de rebanhos
Nas colinas dos seus montes
E com eles subir aos castelos
E passar as suas pontes.

Naveguem barcos, navios,
Levem-nos a novos rumos,
La Loire e o Tejo
Daqui e d’além,
Um passa por Tours
Outro por Santarém.

Lisboa essa cidade
Onde passam sete rios,
Sendo o Tejo o oitavo.
Porto de Templários,
Onde um anjo caído
Lucífer a luz trouxe,
Que outra coisa não fosse
Fez-nos sonhar ser deuses.

Em Lisboa, cidade templo de infinitos,
Quando o Oito adormece,
Os Templários renascem…

Autor: Jónatas

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - V

Densos mistérios
Saindo de Tomar, é obrigatório ver, ainda nas imediações da cidade, o monumental aqueduto de Pegões. Era por aqui que o convento se abastecia de água. O facto de atravessar vales acentuados confere ao monumento um carácter impressionante, em alguns pontos dos seus sete quilómetros de extensão. No vale de Pegões, a parte mais comovente do percurso, o aqueduto desenha uma curva, num pórtico com 58 arcos de volta inteira e 16 arcos quebrados. Uma obra a pedir reabilitação, de modo a que se possa passear pelo aqueduto.
Mais longe, espera-nos a torre templária de Dornes, a uma meia hora da cidade. Uma vez mais, estamos perante um monumento único. E, também aqui, fechado a visitas, neste caso pelo mau estado da escada de acesso. Uma pequena obra e uma bilheteira permitiriam dar outra visibilidade a esta construção, transformada no tempo de Dom Manuel em torre sineira da igreja matriz, situada ao lado.
A igreja terá sido fundada pela Rainha Santa Isabel e nela se pode ver uma assombrosa Pietá em pedra, do século XVI. Os 42 círios de Dornes, representando outras tantas povoações vizinhas, estão guardados na sacristia: saem em procissão desde segunda-feira de Páscoa até ao terceiro domingo de Setembro. Já houve alturas em que a rivalidade entre aldeias foi pretexto para ameaças de tiroteio. Construída sobranceira à albufeira, numa das curvas do Zêzere, o edifício é de planta pentagonal e teria servido como torre-atalaia dos templários. O mistério adensa-se pela serenidade conferida ao lugar pela confluência do rio, da torre, dos montes e vales em redor.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - IV

Um tríptico escondido
Voltemos aos segredos que Tomar esconde. Por exemplo, o tríptico de origem flamenga, do século XVI, que está no baptistério da igreja de São João Baptista, logo à esquerda quando se entra. Tem que se pedir ao sacristão da igreja que faça o favor de abrir a porta do baptistério. Só assim se pode apreciar a obra - não haverá maneira de proteger o quadro sem ter que o esconder? Representando cenas da vida de Jesus - o baptismo no centro, as bodas de Caná e as tentações, além de São João e Santo André nas portas -, a obra é de uma delicadeza ímpar.
Há nesta igreja ainda outras sete telas a justificar a visita. São todas de Gregório Lopes, um dos nomes mais destacados do Renascimento português. Do lado direito, estão A Degolação de João Baptista, a Apresentação da Cabeça de João Baptista, Abraão e Melquisedeque, a Apanha do Maná, a Última Ceia e a Missa de S. Gregório. Na parede defronte, vemos uma Visitação. Gregório Lopes tem obra distribuída por Setúbal, Madeira e Tomar (há pinturas suas também no Convento de Cristo). Em Tomar, além de podermos pousar o olhar de cada vez que passamos junto do Nabão, ainda é possível dar um salto à ermida de Santa Iria. Destaca-se aqui um retábulo em calcário representando a paixão de Cristo, com a curiosidade de a cruz ser em T, ou Tau, representação iconográfica invulgar. Ou à igreja de Santa Maria dos Olivais, onde os templários eram armados cavaleiros.
Subindo de novo para as bandas do castelo e do Convento de Cristo, encontramos a ermida da Senhora da Conceição. Há quem diga que foi construída para capela funerária de D. João III. Álvaro Barbosa diz que isso não é verdade: "Não tem dimensão para ser mausoléu", assegura, foi mesmo edificada como espaço de culto.

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domingo, 31 de julho de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - III

Do Paraíso ao inferno
Menos escondida, agora, está a Sinagoga de Tomar, depois de séculos destinada a outros fins. Está na Rua Dr. Joaquim Jacinto, antiga Rua Nova ou Rua da Judiaria. Hoje, o edifício de planta quadrangular é quase só um espaço de memória, a aguardar obras de recuperação.
Durante o seu consulado como grão-mestre da Ordem de Cristo e governador de Tomar, o Infante Dom Henrique chamou judeus para povoar a cidade e dinamizar a economia local. Deu-lhes um bairro e o direito a construir a sinagoga. Edificado entre 1430 e 1460, o lugar de oração seria desactivado décadas depois, após a expulsão dos judeus de Portugal - a Sefarad do judaísmo. Transformada em cadeia, capela e casa térrea, seria classificada como monumento nacional em 1921 e comprada, em 1923, por Samuel Schwarz, polaco e engenheiro de minas a trabalhar em Portugal, que estudou a comunidade de judeus escondidos de Belmonte. Em 1939, Schwarz doou a sinagoga ao Estado, mas para que nela fosse instalado um museu luso-hebraico.
Atravessando duas ruas, vamos descansar no Paraíso. O café completou um século a 20 de Maio. Situado na Rua Serpa Pinto (antiga Rua da Corredoura), é propriedade de Alexandra Vasconcelos, que o herdou dos pais, depois do avô e de um tio-bisavô. Um trocadilho local diz que, de manhã, o café é o paraíso, à tarde o purgatório e, à noite, o inferno. Alusão ao público predominante que o frequenta: reformados pela manhã e, progressivamente, um público cada vez mais jovem. Já mal se usam cafés assim: não há inox em sítio nenhum. Apenas madeira e ferro, espelhos, mesas em mármore, colunas e um pé direito altíssimo. Numa das paredes, recortes vários a falar do Paraíso. No tecto, duas ventoinhas. O conjunto tem, apesar da patine do tempo, um encanto especial.
Por aqui passa meia Tomar e Umberto Eco, o autor de "O Nome da Rosa", ia escrever numa das mesas, quando esteve na cidade há uns 15 anos. Com uma fachada em vidro (que transformou a fachada anterior, de quatro pórticos), o melhor do Paraíso, segundo a sua proprietária, é o facto de ser um espaço "arejado e ter um pé direito maravilhoso". "Intemporal."

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sábado, 30 de julho de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - II

Pedras mágicas
Da memória dos tempos vêm outros sinais, como uma pedra romana que indicia a presença remota no lugar. Ou, mais junto do rio Nabão e ainda perto da roda hidráulica, no centro da cidade, a escultura que representa Santa Iria - na lenda que vem do tempo da evangelização dos visigodos pelos beneditinos, a monja teria sido atirada ao rio por um príncipe apaixonado e não desejado. O seu corpo teria ido depois parar a Santarém, onde o rio se abriu para deixar ver a urna.
Pedras mágicas no convento são as da janela do capítulo, com quatro metros de altura. Estava incorporada na nave que Dom Manuel mandou fazer para ampliar a igreja templária, depois do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, explica Álvaro Barbosa. Mais próxima de nós, hoje, do que a sua altura inicial (o claustro de onde a podemos olhar é posterior), traduz uma profusão de símbolos. Com o mar omnipresente, tendo em conta os Descobrimentos.
A janela é toda uma lição de simbologia. A coluna, cujo fuste faz a analogia ao tronco da árvore, remete para a simbologia bíblica da profecia do livro de Isaías, que no cristianismo é lida como antecipação do nascimento de Cristo: "Brotará um rebento do tronco de Jessé". Mas também ali se representam as armas dos reis portugueses (há uma fivela de cinto, como sinal da entronização real) e elementos de flora, de onde sobressaem as alcachofras e os ramos de vime.
Triste é ver a janela a ser comida por líquenes invasivos. Só terão aparecido depois da plantação de coníferas na Mata dos Sete Montes, diz Álvaro Barbosa. Procurava-se imitar as matas de Sintra que, por sua vez, reproduziam as florestas alemãs. Mas Tomar não é Sintra e o efeito foi encher de líquenes as pedras do convento.
De lado, numa das torres, nota-se já o efeito da limpeza: aplicaram-se pachos biológicos com nutrientes que promovem a emigração dos líquenes da pedra para uma calda biológica. A diferença é notória: a pedra foi devolvida à sua beleza na torre já limpa, continua sujeita à patine do tempo na janela e em grande parte das paredes do edifício. Os mais distraídos podem não reparar que há uma outra janela semelhante. Inicialmente, havia três: uma a Ocidente (a actual) e duas a Sul, uma das quais foi entaipada. A que ainda está visível está junto da charola, num dos corredores da casa do capítulo. Vê-se de cima para baixo.
Chegamos ao outro lugar encantado deste convento, a charola. Conta a lenda que os templários entravam montados nos seus cavalos pelo deambulatório. O responsável do convento diz que é impossível confirmar tal versão - provavelmente apenas uma lenda. Verdade é que, em 1640, vários conjurados foram ali sagrados cavaleiros, para lutar contra a ocupação filipina. Tomar sempre no centro da história.
"A mística do espaço tem a ver com a memória trazida do Oriente", diz Álvaro Barbosa. A igreja conventual era a de Santa Maria dos Olivais. A igreja da charola, do convento, era dedicada às cerimónias iniciáticas, aprendidas com os cristãos da Síria e os ortodoxos. Colocada no cimo do monte, a charola era a parte mais elevada do lugar.
"É um dos símbolos da mística fundadora de Portugal", diz o conservador do convento. Os edifícios de planta circular são trazidos para Ocidente depois da tomada de Jerusalém pelos cruzados e pelos templários. Na Cidade Santa, havia um templo circular à volta do Santo Sepulcro.
A charola alude, aliás, à morte e ressurreição de Jesus: estão ali representados os instrumentos da paixão e, na nave manuelina, a ressurreição - explica ainda Álvaro Barbosa. "O rei Dom Manuel nunca perdeu a ideia fundiária do espaço: imitar o lugar onde se deu a ressurreição de Cristo." A representação pictórica traduz também esse simbolismo, através de cenas e imagens ligados à vida de Cristo. No tambor central, uma coroa de espinhos esculpida circunda o anagrama de Cristo. Está, no entanto, escondida, mal se vê de baixo.

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os segredos templários que Tomar desvenda - I

Esta sala é quase secreta.
Tem que se ir buscar a chave, descer umas escadas meio escondidas e entrar numa ligeira penumbra que só a iluminação artificial pode quebrar. Ao fundo, abre-se um vão sobre a mata. Por ali sairiam cavaleiros, à procura de encontros secretos, lugares de fuga ou cerimónias ocultas. Para aceder à adega - seria aqui a adega do Convento de Cristo, em Tomar - descem-se sete degraus. Número mítico, símbolo da perfeição na linguagem bíblica. São degraus fora da proporção, que vão aumentando de altura de baixo para cima.
Também no tecto se podem ver símbolos relacionados com a figura da mãe de Jesus: rosas, conchas - antes de ser símbolo de Compostela, a concha era já símbolo de Nossa Senhora - remetem para Maria de Nazaré como vaso de vida, explica o arquitecto Álvaro José Barbosa, ex-director e actual conservador do Convento de Cristo.
Não se sabe a razão de, numa adega, encontrarmos esta decoração - que se repete na cozinha. Certo é que Nossa Senhora da Conceição foi invocada como padroeira da Ordem de Cristo quando, há sete séculos, esta herdou os membros e património dos Templários em Portugal.
A adega - que para alguns era, antes, uma sala de iniciação aos segredos templários - levava ao lado de fora. Ali estava a cerca do convento e a floresta, que já foi "tão densa" que estava vedada "não só aos olhos da vista mas também do espírito", como escrevia Fernão Álvares do Oriente na novela Lusitânia Transformada.
A Mata dos Sete Montes (que está a sofrer pequenas obras de beneficiação para reabrir a tempo da Festa dos Tabuleiros, no início de Julho) era o espaço rústico do convento, explica Álvaro Barbosa. Ali, os monges podiam isolar-se e o boticário podia também ir procurar as plantas para as mezinhas e outros remédios.
Voltamos a encontrar decoração noutro lugar simples como a cozinha. Flores, cálices, cruzes... "O símbolo destinava-se a exprimir conceitos", diz o ex-director do Convento. Provavelmente, acrescenta, seria um modo de levar os monges a recordar em permanência as razões da sua vida naquele lugar. Mas não há certezas. Sabe-se, no entanto, que o complexo constituído pelo Convento de Cristo e pelo Castelo de Tomar, incluindo a Mata dos Sete Montes, está ligado intimamente à História de Portugal.
Essa relação é dominada pela forte presença templária, já que os cavaleiros da Ordem do Templo são chamados a repovoar o território depois da sua conquista aos reinos muçulmanos. Gualdim Pais, mestre da ordem, é o promotor da construção do castelo de Tomar, em 1160. Mas também Almourol, Pombal, Atalaia, Langalhão, Dornes ou Cardiga são entregues aos templários.
Mais tarde, os templários dão lugar, em Portugal, à Ordem de Cristo, em 1319. E, um século depois, o seu grão-mestre será o Infante Dom Henrique, primeiro não-clérigo no cargo, que traz para a antiga casa militar do castelo, entretanto transformada em convento, um grupo de frades orantes. Mais 100 anos e o rei Dom Manuel faz do paço a sua residência favorita, promove o seu alargamento e manda fazer um corpo de igreja com coro alto e pintar a charola, além de outras obras. Com a rainha Catarina, mulher de Dom João III, o edifício torna-se palácio real.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os segredos dos templários que Tomar desvenda


Uma santa atirada ao rio. Uma janela património mundial que fala de uma epopeia. Uma adega que poderia ter sido um lugar de iniciação. A mais antiga sinagoga de Sefarad. Uma mata dos sete montes. Mistérios templários escondidos nas pedras. Um magnífico tríptico fechado à chave. Ir do Paraíso ao inferno num único café. Uma albufeira mágica e um barco no cais. Com a Festa dos Tabuleiros no horizonte, fomos em busca dos segredos de Tomar e da sua região.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Caminho da Serpente

À Lusitânia se chamou Ophiusa “Terra da Serpente”, sendo esta a mais antiga referência conhecida feita ao que é hoje o território português pelo escritor latino Festo Evieno, no IV séc. A.C., esta referência está na origem dos “ophis” povo que viveu principalmente nas montanhas do norte de Portugal e também na foz dos rios Douro e Tejo. Fala-se que seriam druidas ou pró-celtas, cultuavam sob a forma da “serpente” a deusa–mãe.
Símbolo da morte e do renascimento, pois ao hibernar procura o interior da terra, o ventre materno, morre para depois renascer na Primavera, para crescer tem de mudar de pele, numa eterna transmutação, assim é o ser humano para crescer em conhecimento e sabedoria, morre, renasce, muda de pele e cresce.
Não é ao acaso que a deusa–mãe está representada em Portugal sendo também sua Padroeira, Nossa Senhora da Concepção ou Senhora do Ó – a mãe grávida com o crescente lunar e a serpente a seus pés.
Este povo cultuava a “serpente”, adorando assim deusas lunares, Cyntia, Diana ou Selene, ás quais foram erguidos locais de culto ao longo dos Promontório Magno (Lisboa) e Promontório Lunae  (Sintra), este povo que acreditava na transcendência de tais promontórios aí edificou cidades que deram origem a outras cidades, educou os seus filhos, traçou rotas e caminhos por terra e por mar, na nossa alma escreveram a sua história que ainda hoje vive na memória colectiva do povo Lusitano.
É nesse Caminho que o convidamos a viajar, desde Lisboa onde o lendário Ulisses atracou e proclamou: Aqui edificarei a mais bela cidade do Universo, será Ulisseia a capital do mundo! Por quem a Rainha das Serpentes Ophiusa ou a “ deusa lunar Cyntia “ se apaixonou, movida pela dor da partida de Ulisses, formou com a sua própria cauda as Sete Colinas de Lisboa, até ao verdadeiro Finis Terrae do Cabo da Roca e Sintra na busca do “paraíso perdido” que habita algures dentro de nós.

Lisboa – A cidade de Ulisses
Cidade de contrastes, tantos quantos os povos que por ela passaram, celtas, fenícios, romanos, mouros e cristãos, foram transformando e enriquecendo a cidade ao longos dos séculos, a qual se tornou-se famosa e próspera.
O Castelo, as Igrejas, os Conventos, pedras erguidas aos nossos olhos, as ruas estreitas mas luminosas de Alfama e Bairro Alto, o Tejo dos Descobrimentos, o Tejo dos poetas, dos escritores, que entre um sorriso e uma lágrima contida escreveram Portugal, pois a isso apela o mar. O Tejo da saudade que canta o Fado e veste de negros corvos a voz. A Lisboa simbólica do Terreiro do Paço ao Rossio.
Nesta cidade ninguém dorme, só dorme o Tejo quando cantado.
É a Serpente renascida em plena Primavera, a mais bela cidade do Universo.

Sintra – A morada da deusa Cyntia
Na Serra serpentária, altar primitivo de deuses, a história faz-se a partir do alto do promontório no sentido descendente. O promontório apela a todos os nossos sentidos para outra percepção do mistério universal, desde o Cabo da Rocha, agora (Roca) que pela sua importância geográfica suscitou temor e veneração aos vários marinheiros que por ele passaram, erguendo ali locais de culto ao sol e á lua, passando pelo Castelo numa penha erguido, rumo à Vila Velha, outrora terra de Templários, Palácio da Vila morada de Reis mouros e Reis cristãos, com as suas imponentes chaminés apontadas ao céu como que num apelo ao divino.
As árvores milenares que já não contam o tempo; as Fontes de águas inspiradoras; a Quinta da Regaleira, a Iniciática; Monserrate, o seu Palácio e a variada vegetação; o Palácio da Pena, os seus jardins; o Chalé da Condessa D’Edla, símbolo de um grande amor.
Sintra é tudo isto e ainda o que não está visível aos olhos, mas aos sentidos.
É a Sintra do romantismo, dos escritores e poetas que deixaram a deusa Cyntia arrebatar-lhes a alma em cada linha e poema.
A serpente hiberna… Cresce e renasce no Monte da Lua.

De Lisboa Cidade da Luz fundada por Ulisses, ao enigmático Monte da Lua em Sintra, onde mora a deusa da Lua Cyntia, coloca-nos como descendentes de deuses.
Ao fazer o Caminho da Serpente através destes Circuitos e Conferências onde a temática será sempre o “conhecimento” vamos ao encontro do saber e da unidade do ser, rumo á ancestralidade que nos remete ao divinis do povo lusitano e dos seus valores.

Autor: O. Florência