Gabriel Pereira de Castro (1571-1632), deificou Portugal e o seu povo, ao apresentar Lisboa como a cidade fundada por Ulisses no seu longo poema épico intitulado "Ulisseia ou Lisboa Edificada", onde são enaltecidos vários aspectos das tradições históricas de Portugal, conferindo assim maior glória à cidade de Lisboa perante o mundo e por ter sido a partir dela que se alargaram os mares pondo fim ao Velho Mundo.
O poema foi publicado por seu irmão Luís Pereira de Castro em 1636.
Canto I
As Armas e o Varão que os mal seguros
Campos cortou do Egeu e do Oceano,
que por perigos e trabalhos duros
eternizou seu nome soberano:
A grã Lisboa e seus primeiros muros
(De Europa e largo Império Lusitano
Auta Cabeça), se eu pudesse tanto
Pátria, o Mundo, à Eternidade canto.
Lembra-me Musa as cousas e me inspira,
como por tantos mares o prudente
Grego, vencendo de Neptuno a ira,
chegou no Tejo à túmida corrente;
ouvirá o som da lusitana lira,
o negro ocaso e lúcido oriente
se tu dás ser a meu sujeito falto,
para que caiba em mim furor tão alto.
Fernando Pessoa no seu poema "Ulisses" - Mensagem, escrito entre 1913 e 1934 mostra como o futuro glorioso de Portugal poderá concretizar-se através da vivência do mito e da energia criadora que ele liberta.
Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Estes dois poetas, de épocas diferentes, colocaram o povo português como descendentes de deuses, Ulisses tem no sulcar dos mares mais do um sucessor e em Ulisseia constituiu-se uma comunidade de Homens capazes que se reconhecem no mito fundador e que ostentam a marca de descobridores até aos confins dos mares.
O mar, esse deixou de ser apenas um mar sem fim e tenebroso, mas sim, um Novo Mundo em que os homens espalhados pelo horizonte inteiro passaram a estar ligados pelo oceano.
Ulisses, se bem que não tenha existido foi elevado à condição de mito, essa figura lendária foi suficiente para que o povo português se sentisse projectado para a grandeza que tem e que poderá ainda ter, onde o que verdadeiramente importa não é a existência real dele, mas aquilo que ele pode representar.
Assim, o mito, este ou outro, vem dos confins do tempo e como uma força obscura, penetra na nossa realidade presente, infiltra-se como um sinal divino nas nossas vidas, que desligada essa força mágica, ficamos reduzidos a menos que nada, “metade de nada” como escreveu Fernando Pessoa, condenados fatalmente a nada.
Autor: O. Florência
As Armas e o Varão que os mal seguros
Campos cortou do Egeu e do Oceano,
que por perigos e trabalhos duros
eternizou seu nome soberano:
A grã Lisboa e seus primeiros muros
(De Europa e largo Império Lusitano
Auta Cabeça), se eu pudesse tanto
Pátria, o Mundo, à Eternidade canto.
Lembra-me Musa as cousas e me inspira,
como por tantos mares o prudente
Grego, vencendo de Neptuno a ira,
chegou no Tejo à túmida corrente;
ouvirá o som da lusitana lira,
o negro ocaso e lúcido oriente
se tu dás ser a meu sujeito falto,
para que caiba em mim furor tão alto.
Fernando Pessoa no seu poema "Ulisses" - Mensagem, escrito entre 1913 e 1934 mostra como o futuro glorioso de Portugal poderá concretizar-se através da vivência do mito e da energia criadora que ele liberta.
Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Estes dois poetas, de épocas diferentes, colocaram o povo português como descendentes de deuses, Ulisses tem no sulcar dos mares mais do um sucessor e em Ulisseia constituiu-se uma comunidade de Homens capazes que se reconhecem no mito fundador e que ostentam a marca de descobridores até aos confins dos mares.
O mar, esse deixou de ser apenas um mar sem fim e tenebroso, mas sim, um Novo Mundo em que os homens espalhados pelo horizonte inteiro passaram a estar ligados pelo oceano.
Ulisses, se bem que não tenha existido foi elevado à condição de mito, essa figura lendária foi suficiente para que o povo português se sentisse projectado para a grandeza que tem e que poderá ainda ter, onde o que verdadeiramente importa não é a existência real dele, mas aquilo que ele pode representar.
Assim, o mito, este ou outro, vem dos confins do tempo e como uma força obscura, penetra na nossa realidade presente, infiltra-se como um sinal divino nas nossas vidas, que desligada essa força mágica, ficamos reduzidos a menos que nada, “metade de nada” como escreveu Fernando Pessoa, condenados fatalmente a nada.
Autor: O. Florência