De leste a oeste comandámos,
Onde o sal vai, pisámos nós.
Ao luar de ignotos fins buscámos
A glória, inéditos e sós.
Doença o nosso sono brando.
Para quando é a nova lida,
Ó mãe Ibéria, para quando?
Dois povos vêm da mesma raça
Da mãe comum dois filhos nados,
Hispanha, glória, orgulho e graça,
Portugal, a saudade e as espada,
Mas hoje... clama no ermo insulso
Quem fomos por quem somos, chamando.
Para quando é o novo impulso
Ó mãe Ibéria, para quando?
Este poema inédito de Fernando Pessoa, manuscrito e datado, de que actualizei a ortografia, merece alguns comentários.
Em primeiro lugar são de referir duas variantes nos dois primeiros versos da segunda estrofe: "três" em vez de "dois povos" e de "dois filhos". O terceiro filho seria a Catalunha, que figura depois de Portugal (quarto verso), por acrescento posterior. A Mãe Ibéria teria assim, na segunda versão que os acrescentos deixam entrever, três filhos: Portugal, a Hispanha assim chamada e a Catalunha: duas filhas e um filho macho.
É curioso constatar que o tal Quinto Império, com cujo sonho Pessoa se entreteve ao longo da vida, que seria do domínio do ser e não do ter - o da cultura e não o do poder, como no passado - abrangeria também a mãe Ibéria, como este poema deixa entender.
Essa a sua originalidade, abrindo perspectivas novas à compreensão do messianismo de Pessoa.
Essa a sua originalidade, abrindo perspectivas novas à compreensão do messianismo de Pessoa.
Descoberto, fixado e comentado por Teresa Rita Lopes
In, Hablar Falar de Poesia nº 1, Outono 1997
http://www.cfh.ufsc.br/~magno/orpheuinedito.htm
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