quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O problema da habitação nos anos 70


Conferência sobre a experiência do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local) nos bairros degradados de Lisboa e a organização dos moradores na Luta pela Habitação, por ALBANO PIRES.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Miguel Torga


"Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores"
Miguel Torga - 1993

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Monte da Lua ou Serra de Sintra

Chegámos ao promontório do cabo do mundo, que apela a todos os nossos sentidos para uma outra percepção. O que haverá no Monte da Lua que nos cativa e encanta de tal forma que ficamos deslumbrados a cada passo que damos. 
Dizem que é aqui que mora a deusa Cíntia que em noites de lua cheia dança com as fadas e mouras encantadas, príncipes, elfos e duendes, onde a cada brisa que traz nevoeiro do mar se escreveram lendas e histórias que até hoje perduram na memória deste lugar. 
Mas deixemos a deusa Cintia dançar nos picos desta Serra serpentária e vamos falar um pouco do Monte que á Lua pertence, fazendo o caminho descendente a partir do alto dos penedos.

Na Antiguidade Clássica ficou conhecida por Promontorium Lunae ou Monte da Lua, pela forte tradição de culto astrolátrico dedicado á Lua, desde os tempos da pré história até á dominação romana, prosseguindo ao longo dos séculos com a igreja medieval condenando repetidamente o uso de amuletos em forma de Lua. Esses cultos atingiram grande vigor na Serra de Sintra que se estende e termina no Cabo da Roca marcando o ponto mais ocidental do continente europeu. 
Sintra passou por várias grafias ao longo dos séculos, há quem afirme que Sintra advirá do “sin”, que para os babilónios significaria montanha e “tra” pelos lusitanos pois conteria em si a três fases da Lua, também há quem refira que “suntria” seria mais antiga forma medieval conhecida, a mesma aponta para o indo-europeu, “astro luminoso”, seja qual for a denominação Cynthia, Xentra ou Suntria , foi através dos Fenícios, Celtas, Lusitanos, Romanos, Mouros, que Sintra se tornou na riqueza cultural que compõe esta Serra.

Sintra foi classificada Património Mundial no âmbito da Paisagem Cultural em 1995, a candidatura de Sintra a Património Mundial exigia uma mistura singular de locais naturais e culturais exemplares, a Serra de Sintra corresponde-lhe de uma forma excepional, quem a vê de longe vislumbra uma cadeia montanhosa granítica coberta de densa floresta, quem a vê mais de perto, observa marcas culturais de uma riqueza surpreendente que nos fala de vários séculos da história de Portugal.

As várias culturas dos povos que aqui se instalaram e fizeram deste lugar a sua pátria, misturam-se e espalham-se pela paisagem, em socalcos de memórias vivas que estão abertas aos nossos olhos e outras suspensas no tempo mas que falam aos nossos sentidos. 
Erguido sobre um maciço rochoso num dos cumes da Serra ergue-se o chamado Castelo dos Mouros, uma pesquisa arqueológica revelou uma primitiva ocupação datada do sec X a VIII a.c., mas terá sido com a invasão muçulmana a partir do Séc. VIII que foi construída a primitiva fortificação a fim de controlar as vias terrestres que ligavam Sintra a Mafra, Cascais e Lisboa. 
Do alto desta fortificação para além da vista privilegiada que se estende até ao oceano avistamos o imponente Palácio Nacional de Sintra, ou Palácio da Vila, terá sido residência dos governantes mouros da região, constituído por vários corpos edificados ao longo das sucessivas ocupações. Quando Sintra foi tomada aos mouros nos Sec. XII, D. Afonso Henriques doou o Palácio e o Castelo a Gualdim Pais, Grão-mestre da Ordem dos Templários em Portugal. Foi com D. João I que surgiram as primeiras alterações no Palácio, as chaminés cónicas, o edifício central bem como várias salas. A estas alterações se seguiram outros projectos de remodelação nos séc. XV e XVI, de salientar o estilo “manuelino” inspirado nos descobrimentos, bem como a influencia islâmica chamado o estilo “mudejar”.

No coração da Serra temos o Convento de Santa Cruz dos Capuchos, mandado construir por D. Álvaro de Castro no séc. XVI, famoso pelo extremo da sua pobreza, seja da construção como das próprias condições de vida á época, foi habitado até finais do Sec. XVIII sendo depois abandonado com a extinção das ordens religiosas. 

No Séc. XIX, Sintra oferece-nos o que de mais belo e sublime o movimento romântico criou, em redor do centro histórico surgem vários palacetes como Monserrate de estilo oriental, envolvido por um verdadeiro parque botânico com plantas e arvores vindas de vários pontos do mundo, de quintas senhoriais como a Quinta do Relógio de inspiração neo-mourisca ou a Quinta da Regaleira onde a simbólica nos faz avançar para dentro e ao fundo de nós.

Várias personalidades imortalizaram este Promontório, desde pintores, músicos, compositores, poetas, escritores, historiadores, mas entre todas as personalidades que se renderam e se inspiraram em Sintra, uma houve que mudou o curso da sua história, D. Fernando II, o rei artista, homem de vasta cultura e sensibilidade refinada, fez nascer no Alto desta Serra o mais magnifico Palácio, fruto de um sonho maior, o Palácio da Pena e o seu Parque deslumbrante, onde está inserido o Chalet da Condessa D’Edla, segunda mulher de D. Fernando, símbolo de um amor que sobreviveu ao fogo e ao tempo. 

Seria tarefa difícil enumerar todos os encantos e recantos de Sintra, nada como visitá-la e senti-la, pois é um daqueles locais onde a mão dos deuses se aprimorou.

Autor: O. Florência

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cabo Barbárico ou Cabo Espichel

Sob a intensa luz do sol que cobre de ouro e azul a imensidão do mar, este maciço calcário que se estende até á Serra da Arrábida, mais parece um monstro marinho que dorme sob os nossos pés. Não há vento, nem ninguém, apenas os olhos para admirar esta beleza absoluta e revelar o indizível, numa dualidade que se divide entre a natureza e a mão do homem. Os promontórios não são apenas acidentes geográficos da natureza, são também lugares de história, tradição e religião, reactualizados ao longo do tempo, na sequência das sucessivas ocupações, desde os povos pré-históricos, fenícios, romanos, muçulmanos e cristãos, sendo que o Cabo Espichel não fugiu á regra.

Para entendermos porque se chamou Cabo Barbárico, temos de recuar no tempo. Este promontório foi habitado por um povo, os sárrios, provenientes de Tiro, que aqui formaram uma colónia cuja capital era Salácia. É ao caldeu que se vai buscar a origem do nome “sárrio” ou tsar, que significa púrpuro. Os fabricantes destas cores eram chamados de tsarah, que os romanos, no seu idioma, deram o nome de barbarii, ou barbáricos. Assim o nome de Cabo Barbarium foi dado a este local que é hoje o Cabo Espichel. 
No livro “Antiguidades da Lusitânia”, André de Resende descreveu que nestas paragens havia um certo género de marisco, dos quais se geravam uns bichinhos vermelhos como o sangue e aromáticos. Depois de secos, feitos em pó, serviam para tingir de púrpura ou o carmesim. Também, nasciam umas flores silvestres, que colhidas na primavera e depois de secas faziam a cor púrpura com que se vestiam os Imperadores. Assim, os mercadores romanos vinham ao promontório comercializar com os barbáricos a fina “grãn” que levavam para Roma e às feiras de Tiro por grande valor e estima.
Enquanto povo, procuravam as montanhas e os promontórios para instalarem as suas comunidades, acreditando que os deuses moravam em tais lugares. Os romanos, por outro lado, evitavam esses lugares, exactamente pelo mesmo motivo, criando colónias noutros locais. Porém, com o tempo e as sucessivas ocupações dos povos que por aqui passaram, a fé dos homens mudou e este lugar também.

O Santuário da Nossa Senhora da Pedra Mua ou Santuário do Cabo Espichel é um conjunto arquitectónico que envolve património edificado e património natural. A primeira categoria está directamente ligada à lenda da “Pedra Mua”, a versão mais conhecida remonta ao séc. XV, refere que a Nossa Senhora foi transportada numa jumentinha desde o mar até ao topo do cabo. É neste quadro, que as pegadas da jumentinha se cruzam com a identificação de pistas de dinossauros impressas na rocha. Toda esta carga simbólica proporcionou um terreno fértil para a tradição popular expressar a sua fé, culminando com o esplendor das romarias e festas consagradas à Nossa Senhora do Cabo Espichel.
Esta atmosfera religiosa à volta da lenda deu origem à mais antiga construção do santuário, a Ermida da Memória. É um pequeno templo quatrocentista de planta rectangular, simples e harmoniosa, onde no seu interior e na fachada sul figuram painéis de azulejos que narram o historial do santuário, sendo este imóvel edificado por iniciativa dos primeiros peregrinos. 
A Igreja de Nossa Senhora do Cabo, datada do Séc. XVIII, construção de iniciativa da Casa Real Portuguesa, tem no interior da capela as paredes revestidas a mármore, destacam-se, ainda, os frescos e pinturas a óleo de estilo ilusionista de perspetiva, executadas por Lourenço da Cunha, as únicas que subsistem até hoje deste artista.

Ladeando o Santuário em corpos paralelos, temos a Casa dos Cirios ou simplesmente hospedarias, construídas também no Sec. XVIII, com o objectivo de substituir as casas dos romeiros que se dispunham em volta do antigo templo. Devido à grande afluência de peregrinos, D. José I mandou construir a Casa da Água a fim de abastecer o local, provindo a mesma da vizinha povoação da Azoia conduzida pelo Aqueduto. 
Também edificada por D. José I, temos a Casa da Ópera, que incluía cenários e acomodações para público e artistas. Eram organizados espectáculos com companhias famosas para animar os festejos. 
Não podemos esquecer o Farol, luz dos navegantes de outrora e de hoje. Já em 1430 a Irmandade deste santuário tinha instalado um farolim que antecedeu o que é hoje a actual Torre.

É esta dualidade que faz do Cabo Espichel um lugar especial. Entre o património construído de caracter religioso e militar e as escarpas erguidas de um mar intensamente azul, invocando assim o enigma da natureza primordial que ao longe vai beijar o Monte da Lua.

Autor: O. Florência