quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Universidade de Coimbra - 7 Séculos em prol da Cultura

A Universidade de Coimbra é uma das universidades mais antigas na Europa, no Mundo e a mais antiga de Portugal.
A sua história remonta ao século seguinte da fundação da nação portuguesa, dado que foi criada no século XIII, em 1290, mais concretamente a 1 de Março, quando foi assinado em Leiria, pelo Rei D. Dinis I, o documento que criou a Universidade e pediu ao Papa a confirmação.
A universidade, inicialmente instalada na zona do actual Largo do Carmo, em Lisboa, foi transferida para Coimbra, para o Paço Real da Alcáçova. Voltou para Lisboa e regressou a Coimbra. Ficou nesta cidade até 1377 e voltou de novo para Lisboa neste ano. Permaneceu em Lisboa até 1537, data em que foi transferida definitivamente para Coimbra, por ordem de D. João III. Recebeu os seus primeiros estatutos em 1309, já no reinado de D. Manuel I.

Em Portugal, como um pouco por todo o mundo, a ideia da instituição Universidade de Coimbra encontra-se intimamente ligada à Alta Universitária, um conjunto arquitectónico heterogéneo de que se destacam as construções do chamado Estado Novo e, sobretudo, o Páteo e Paço das Escolas, dominados pela célebre Torre da Universidade. Foi o Paço das Escolas que aglutinou, todas as Faculdades da Universidade de Coimbra, após a instalação definitiva nesta cidade. É um verdadeiro percurso itinerante de quase três séculos entre Lisboa e a urbe do Mondego. Quando em Coimbra, os Estudos Gerais (mais tarde designados Universidade) distribuíram-se por localizações diversas, destacando-se os edifícios próximos do Mosteiro de Santa Cruz e o próprio Paço da Escola. Vamos fazer uma visita aos principais monumentos de interesse desde a sua fundação:

Sala Grande dos Actos é a principal sala da Universidade. É também conhecida por Sala dos Capelos uma vez que, ainda hoje, é utilizada nas cerimónias académicas.
Quando visitar a Sala dos Capelos poderá visitar também a Sala do Exame Privado e a Sala das Armas.
A Sala do Exame Privado fazia parte integrante da ala real do palácio. Foi câmara real, ou seja, o local onde o monarca pernoitava. Também foi nesta sala que se realizou a primeira “reunião” entre o Reitor D. Garcia de Almeida e os lentes (professores), no dia 13 de Outubro de 1537, data da transferência definitiva desta instituição para Coimbra.
A Sala das Armas fazia parte da ala real do antigo paço. Alberga a panóplia das armas da Guarda Real Académica, que ainda hoje são utilizadas pelos Archeiros nas cerimónias académicas solenes.
Casa da Livraria, nome por que era conhecida a Biblioteca Joanina, recebeu os primeiros livros depois de 1750, sendo a construção do edifício do século XVIII. O edifício tem três andares e alberga cerca de 200.000 volumes, havendo no piso nobre cerca de 40.000. Volumes raros e históricos de uma importância notável.
Prisão Académica, resultante da condição privilegiada da Universidade, seria instalada, em dois antigos aposentos, sob a Sala dos Capelos. Sendo então transferida para as infra-estruturas da Biblioteca Joanina que, por seu turno, incorporara, quando da sua edificação, os restos arruinados do que fora o antigo cárcere do Paço Real, documentando o único trecho de cadeia medieval subsistente em Portugal.
Porta Férrea e Via Latina, destinada a dar solenidade à entrada do recinto universitário, constitui a primeira obra de vulto empreendida pela Escola após a aquisição do edifício, por isso idealizada como um arco triunfal, de dupla face (na tradição da porta-forte militar), evocada no programa escultórico, alusivo às quatro faculdades (Teologia, Leis, Medicina e Cânones) e aos dois monarcas fundamentais na sua história (D. Dinis, que fundou a Universidade, e D. João III, que a transferiu para Coimbra).
A Via Latina, erigida da segunda metade do século XVIII, constitui, na essência, um corpo de aparato, adossado (encostado) ao alçado interno norte do palácio escolar, como solução hábil para facilitar os acessos entre o Paço Reitoral, a Sala dos Capelos e os Gerais.
Torre da Universidade tem 33,5 metros de altura, constitui o emblema tradicional de Coimbra. Começou a construir-se em 1728 e foi terminada em 1733. No topo sobre o relógio, abre-se um miradouro do qual se desfruta uma panorâmica esplendorosa da cidade e do vale do Mondego. Nesta Torre está colocada, entre outros sinos, a célebre «cabra», que marcava as horas do despertar e do recolher dos estudantes.
Capela S. Miguel foi construída no início do século XVI, substituindo uma anterior, provavelmente do século XII. A sua estrutura arquitectónica é manuelina, estilo decorativo visível sobretudo nos janelões da nave central e no arco cruzeiro.

Durante a ditadura do Estado Novo foi palco de várias actividades de gerações estudantis na luta contra o regime, pela Liberdade, os Direitos Humanos, a Democracia, estando empenhados os mais diversos intelectuais e pensadores portugueses.
Com o 25 de Abril de 74, com o novo período da vida portuguesa e universitária, foi alvo de várias reformas para acompanhar a nova dinâmica política.
A Universidade de Coimbra, a Alta e a Sofia foram classificadas como Património Mundial pela UNESCO no ano de 2013.

Continuando a manter o renome de outros tempos, é hoje uma instituição de referência, e durante os seus mais de sete séculos de existência, foi crescendo um pouco por toda a cidade, promovendo a divulgação da cultura portuguesa no mundo.


Autor: A. Pires 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Zeca Afonso - manter vivos o espírito e a lição de dignidade

Considerar a obra apenas do ponto de vista da cantiga de intervenção, “é do mais redutor que existe, até porque mesmo nesse campo ele esteve sempre à frente do tempo dele”, Viriato Teles, não hesita mesmo em afirmar que José Afonso era “um génio, tal como Carlos Paredes”. Quando José Afonso morreu Paco Ibañez disse: “que Zeca teve azar de ter nascido português, se tivesse nascido nos Estados Unidos estaria ao nível desses grandes criadores mundiais”.
 
José Manuel Cerqueira Afonso Santos, conhecido por Zeca Afonso, nome com o qual assinava os seus discos, considerado durante muito tempo músico de intervenção, é para Francisco Fanhais, companheiro de cantigas e de estrada, e actualmente dirigente da Associação José Afonso: “muito mais do que um cantor ou um músico de intervenção. Essa designação serve para menosprezar toda a parte poética e musical do autor e é um álibi muito bom para que os divulgadores de música o possam banir com toda a tranquilidade”. “Cada uma das canções de José Afonso faz parte de um conjunto de grande valor musical e poético que, penso, está ainda por descobrir”, diz Francisco Fanhais.

Também o jornalista Viriato Teles, autor do livro As voltas de um andarilho – Fragmentos da vida e obra de José Afonso, considera: “que está ao nível dos grandes criadores musicais do mundo, e ao contrário do que habitualmente fazemos, que é comparar os portugueses com artistas estrangeiros, acha mesmo que Zeca Afonso “está ao nível de um Bob Dylan, John Lennon, Léo Ferré ou de um Jacques Brel”.
Gravou vários discos entre os quais se destacam: Cantares do andarilho; Contos velhos, novos rumos; Traz outro amigo também; Cantigas do Maio; Eu vou ser como a toupeira; Venham mais cinco; Coro dos tribunais; Com as minhas tamanquinhas; Enquanto há força; Fura, fura e Fados de Coimbra;
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de canções suas gravadas por mais de uma centena de cantores, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial. E não é apenas Grândola vila morena, se há de facto um músico português que se universalizou foi o Zeca, se calhar tanto ou mais do que Amália, embora esta tenha tido mais visibilidade.

Entre os espectáculos que por todo o país e no estrangeiro deu, fez, participou, sempre com a sua generosidade, o apego e a solidariedade com as causas do povo, tem que ser assinalado o concerto no Coliseu de Lisboa. Neste concerto não deixaram de actuar os amigos e companheiros de canções e de luta, Rui Pato, Francisco Fanhais, Fausto, Júlio Pereira, Janita, Octávio Sérgio, Lopes Almeida, Durval Moreirinhas, António Sérgio, bem como a recordação de Adriano Correia de Oliveira, tantos entres outros que encheram a sala e a fez transbordar de emoção, pois, muitos de nós sabíamos que seria o último concerto da sua vida, e o Zeca também!

O seu trabalho é apreciado pelo país inteiro e no estrangeiro, e com a incidência política que as suas canções ganharam, indiscutivelmente representa uma parte muito importante da cultura portuguesa.
Apesar de reconhecido, José Afonso não tem ainda hoje o estatuto que devia ter na música portuguesa.

Fique com José Afonso, na canção: "Tinha uma sala mal iluminada" do álbum Enquanto há força.


(...)
A velha história ainda mal começa
Agora está voltando ao que era dantes
Mas se há um camarada à tua espera
Não faltes ao encontro sê constante

Há sempre quem se prante à tua mesa
Armado em conselheiro ou penitente
A luta agora está de novo acesa
E o caminho é só um é sempre em frente
(...)



Autor: A. Pires

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Caminho


Longe é a noite para aquele que vela
Longe é o caminho para aquele que está fatigado
Longe é a série para os ignorantes que desconhecem a boa lei.

Nem no espaço Celeste,
Nem no fundo do Oceano,
Nem numa caverna nas Montanhas,
Em sítio nenhum do Mundo se encontrará um lugar
Aonde aquele que aí vive
não possa ser vencido pela morte.

De ossos é feita a cidade,
Coberta de carne e de sangue
Onde a velhice e a morte, o orgulho e a hipocrisia
Procuram guarida.

O que é o sorriso, o que é a alegria
Quando tudo o que existe,
está mergulhado pelas trevas.

Não procurareis vós a Luz!


Autor: António Albino Machado †