quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Zeca Afonso - manter vivos o espírito e a lição de dignidade

Considerar a obra apenas do ponto de vista da cantiga de intervenção, “é do mais redutor que existe, até porque mesmo nesse campo ele esteve sempre à frente do tempo dele”, Viriato Teles, não hesita mesmo em afirmar que José Afonso era “um génio, tal como Carlos Paredes”. Quando José Afonso morreu Paco Ibañez disse: “que Zeca teve azar de ter nascido português, se tivesse nascido nos Estados Unidos estaria ao nível desses grandes criadores mundiais”.
 
José Manuel Cerqueira Afonso Santos, conhecido por Zeca Afonso, nome com o qual assinava os seus discos, considerado durante muito tempo músico de intervenção, é para Francisco Fanhais, companheiro de cantigas e de estrada, e actualmente dirigente da Associação José Afonso: “muito mais do que um cantor ou um músico de intervenção. Essa designação serve para menosprezar toda a parte poética e musical do autor e é um álibi muito bom para que os divulgadores de música o possam banir com toda a tranquilidade”. “Cada uma das canções de José Afonso faz parte de um conjunto de grande valor musical e poético que, penso, está ainda por descobrir”, diz Francisco Fanhais.

Também o jornalista Viriato Teles, autor do livro As voltas de um andarilho – Fragmentos da vida e obra de José Afonso, considera: “que está ao nível dos grandes criadores musicais do mundo, e ao contrário do que habitualmente fazemos, que é comparar os portugueses com artistas estrangeiros, acha mesmo que Zeca Afonso “está ao nível de um Bob Dylan, John Lennon, Léo Ferré ou de um Jacques Brel”.
Gravou vários discos entre os quais se destacam: Cantares do andarilho; Contos velhos, novos rumos; Traz outro amigo também; Cantigas do Maio; Eu vou ser como a toupeira; Venham mais cinco; Coro dos tribunais; Com as minhas tamanquinhas; Enquanto há força; Fura, fura e Fados de Coimbra;
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de canções suas gravadas por mais de uma centena de cantores, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial. E não é apenas Grândola vila morena, se há de facto um músico português que se universalizou foi o Zeca, se calhar tanto ou mais do que Amália, embora esta tenha tido mais visibilidade.

Entre os espectáculos que por todo o país e no estrangeiro deu, fez, participou, sempre com a sua generosidade, o apego e a solidariedade com as causas do povo, tem que ser assinalado o concerto no Coliseu de Lisboa. Neste concerto não deixaram de actuar os amigos e companheiros de canções e de luta, Rui Pato, Francisco Fanhais, Fausto, Júlio Pereira, Janita, Octávio Sérgio, Lopes Almeida, Durval Moreirinhas, António Sérgio, bem como a recordação de Adriano Correia de Oliveira, tantos entres outros que encheram a sala e a fez transbordar de emoção, pois, muitos de nós sabíamos que seria o último concerto da sua vida, e o Zeca também!

O seu trabalho é apreciado pelo país inteiro e no estrangeiro, e com a incidência política que as suas canções ganharam, indiscutivelmente representa uma parte muito importante da cultura portuguesa.
Apesar de reconhecido, José Afonso não tem ainda hoje o estatuto que devia ter na música portuguesa.

Fique com José Afonso, na canção: "Tinha uma sala mal iluminada" do álbum Enquanto há força.


(...)
A velha história ainda mal começa
Agora está voltando ao que era dantes
Mas se há um camarada à tua espera
Não faltes ao encontro sê constante

Há sempre quem se prante à tua mesa
Armado em conselheiro ou penitente
A luta agora está de novo acesa
E o caminho é só um é sempre em frente
(...)



Autor: A. Pires

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