terça-feira, 10 de julho de 2012

Antigos e Novos Templários: duas realidades, uma só missão

Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo de Jerusalém, Ordem do Templo, ou simplesmente, Templários. As suas origens são mais ou menos do conhecimento geral: como a própria designação escolhida indica, terão estado nos fundamentos que contribuíram para a criação dessa Ordem, Cristo e o Templo de Jerusalém. Esta premissa é praticamente incontestável, estando mais que demonstrada nos inúmeros escritos sobre a matéria, bem como na pedra dos locais por onde terão passado. O que terá levado nove cavaleiros a enveredar por esse caminho e mover as mais altas esferas do poder então vigente para levar avante a sua intenção, é outra questão que merece sem dúvida um desenvolvimento adequado e que não tem merecido um tratamento muito aprofundado por parte dos mais diversos investigadores que sobre ela se têm debruçado. O que terá levado esses cavaleiros aproveitando a entrada dos cruzados na cidade de Jerusalém pela Porta de Damasco em 1099, instalando-se no que restava do antigo Templo e fazendo uso exclusivo das suas antigas cavalariças, é assunto que por si só requer uma investigação dedicada e isenta, no sentido de se apurar o porquê da escolha desse local e a razão da permanência no mesmo, num quase absoluto sigilo, durante um período de cerca de nove anos. Certo é que esse punhado de cavaleiros procuraram então colocar-se sob protecção da Igreja dita Católica, dominante no espaço europeu e nas novas terras de Outremer entretanto conquistadas. Terão recorrido a um dos homens curiosamente na época bastante influente no seio dessa Igreja: Bernard de Clairvaux, aquele que viria a ser conhecido por São Bernardo e que não sendo oriundo de uma das designadas “ordens nobres”, seria no entanto dotado de elevados dotes de eloquência e capacidade de retórica, tendo desde cedo conquistado um lugar de destaque que lhe permitiu exercer influência em algumas importantes decisões. E uma das decisões em que participou, na sequência do pedido que lhe foi efectuado pelo pequeno grupo de cavaleiros que a ele se dirigiu, procurando ajuda para a formação da nova Ordem, foi a de colocá-los sob protecção da sua Igreja, formalizando esse acto através da atribuição de uma regra por si redigida e apresentada em 1128 no Concílio convocado pelo Papa Honório II e que decorreu em Troyes.

Mas existem vários aspectos da existência desta ordem que não se encontram devidamente esclarecidos. Presentes em praticamente todas as cruzadas, não terão no entanto participado, pelo menos activamente (como Ordem), na que foi movida contra os Cátaros (também designados por Albigenses), onde se celebrizou a infeliz sentença do então Legado do Papa Inocêncio III, que ao responder à pergunta do Comandante da força atacante relativamente ao destino a dar às mulheres, crianças e aos não Cátaros, terá ordenado, “matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus”. E a cruzada das crianças? Que levou para a morte e escravidão cerca de 50.000 crianças que por serem puras teriam supostamente mais força no combate aos infiéis? E o que dizer da designada primeira cruzada (ou dos mendigos), juntando guerreiros, mulheres, velhos e crianças, que partiram ao encontro da morte, na resposta ao apelo de um louco que se dava pelo nome de Pedro o Eremita (não oficial, pois considera-se a 1ª oficial como consequência do Concílio de Clermont, convocado pelo papa Urbano II)? Estariam os Templários (como Ordem) de acordo com este tipo de situações? Certamente que não, pois o seu nome não aparece associado a nenhuma delas.

Uma outra questão, é a da esquadra do Templo, uma forma de projecção de força através do meio natural que é o mar. E não foi até hoje ainda bem explicado o que fazia em Calais (sim, também existe a teoria de La Rochelle), nas vésperas da detenção dos templários de França, quando supostamente deveria estar em Toulon, pronta a zarpar em caso de necessidade através do mediterrâneo levando os cavaleiros para mais uma incursão no Outremer das cruzadas. Igualmente, nunca se conheceu destino exacto das carroças, supostamente vistas a abandonar as instalações do templo de Paris na noite anterior à fatídica sexta-feira 13 de Outubro de 1307, em que foram detidos os templários de França e o Grão-Mestre Jacques de Molay (e a carga negativa ainda hoje associada a essa data não deixa de ser curiosa).

A ganância que terá movido o Rei de França, Filipe IV, com a colaboração do seu Chanceler, Guillaume de Nogaret, ao procurar apoderar-se dos bens dos templários, à semelhança do que já fizera em 1306 com os dos Judeus, terá no entanto sido potenciada por uma questão muito mais relevante, de tal forma que terá assegurado o apoio incondicional de Bertrand de Gouth, o Papa de Avignon, Clemente V. A detenção do Grão-Mestre tinha implicações muito graves, uma vez que o poder deste era imenso, só quase se comparando ao do próprio Papa, única entidade perante quem este respondia. O propósito inerente à celeridade que foi dada ao início dos interrogatórios, que terão sido conduzidos com o objectivo claro de obter a condenação de todos os Templários, abrindo assim caminho ao eventual assalto aos bens da Ordem do Templo, foi no entanto frustrado, uma vez que apenas foi conseguido o acesso (e não a posse) aos bens imóveis da Ordem. Descubra-se o destino das carroças que terão abandonado o Templo de Paris, verifique-se as rotas dos navios da esquadra do Templo, que certamente se dispersaram para que não fossem facilmente localizáveis, e certamente se encontrará uma boa parte daquilo que se costuma designar por tesouro dos templários.

Quanto ao principal motivo que levou à detenção e perseguição dos Templários, poder-se-á dizer que está intimamente ligado a uma descoberta que, em determinada altura estes terão feito. Uma terrível descoberta. Um dos grandes segredos dos Templários. Algo que não podiam de forma alguma aceitar. Uma traição, um erro, um engano. Algo que os afastou da “luz” vigente. Esta ter-se-á tornado no entanto na principal causa do seu fim, pelo menos na forma em que se apresentavam perante o mundo. A este facto não será estranha a sua recusa na veneração da imagem de Jesus na Cruz. Por esse motivo esse símbolo não estava presente nos seus templos. E também é um facto que após o seu fim como Ordem formalmente reconhecida pela Igreja dita católica, os seus templos não foram mais utilizados, com excepção daqueles entregues a outras Ordens ou entidades, mas sempre apenas após serem alvo de alterações. E assim se poderá compreender algumas das declarações patentes nos autos dos interrogatórios, arrancadas sob tortura pela inquisição.

Será importante recordar ainda aquelas que, de acordo com a tradição oral, terão sido as últimas palavras de Jacques de Molay na ilha de Paris, na fogueira onde foi queimado por ordem da inquisição em 18 de Março de 1314: “Papa Clemente... Cavaleiro Guillaume de Nogaret... Rei Filipe; Intimo-os a comparecerem perante o Tribunal do Juiz de todos nós dentro de um ano para receberdes o seu julgamento e o justo castigo. Malditos! Malditos! Malditos! Todos malditos até a décima terceira geração de suas raças!

Terá de facto existido um motivo principal que contribuiu de forma decisiva para o precipitar de todos os acontecimentos. Mas esse não será divulgado aqui. Ficam as pistas. A seu tempo, mais que não seja para que a justiça, a verdade e a dignidade sejam repostas, essa causa será de conhecimento de quem de facto esteja interessado em conhecê-la. Uma última pista: embora existam as mais diversas interpretações, será aqui de relembrar a inscrição deixada pelo abade Bérenger de Saunière na entrada da capela em Rennes-Le-Château: “Terribilis est locus iste” (“Este local é terrível”).

Autor: A. C. Costa