quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Solstício de Inverno

É sabido que as primeiras civilizações estratificadas, da Idade dos Metais, surgiram na Ásia Menor (sumérios, milénio VI a.C.) e no norte de África (egípcios, milénio V a.C.). A Suméria ocupava o sul da Mesopotâmia - "terra entre rios"- entre os rios Tigre e Eufrates, junto ao Golfo Pérsico. Hoje, já se sabe que a escrita foi invenção dos sumérios (cuneiforme), além disso, os antigos sumérios criaram quase tudo: administração e justiça; formas políticas de governo; instrumentos de troca e de produção; formas de pensamento religioso; técnicas de construção.

A religião foi, na realidade, a base e o centro da vida da Mesopotâmia, sendo, toda ela, originária da concepção religiosa da Suméria, que remonta à era neolítica e que influenciou todos os povos antigos, cuja religião era baseada em divindades cósmicas, principalmente no deus Sol. Assim, na religião suméria, os três deuses fundamentais: Anu, rei do Céu, Enlil, rei da Terra, e Ea, deus do Oceano; esses deuses primordiais criaram os deuses astrais, que se ocupam directamente do homem: Chamach, deus-Sol, Sin (deus-Lua, masculino) Ishtar, a deusa Vénus (relativa ao planeta) e Dumuzi, deus agrário das mortes e ressurreições anuais dos vegetais, de acordo com o ciclo do Sol. Foi dos sumérios, o primeiro culto solar da Humanidade na História, embora já possa ter havido algum, na era neolítica da Pré-História. Como grandes matemáticos, adquiriram grande conhecimento sobre a astronomia, prevendo eclipses solares e lunares, aprendendo a plantar de acordo com as fases da Lua, dividindo o ano em 12 meses lunares, os meses em semanas, a semana em sete dias (cada um consagrado a um dos sete "planetas" da Antiguidade), o dia em vinte e quatro horas, a hora em sessenta minutos e o minuto em sessenta segundos. Quando elaboraram o seu sistema cosmológico, fizeram uso das doze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua passavam, regularmente, e que foram as precursoras do zodíaco.

No Antigo Egipto, embora, houvesse variados conceitos do deus-Sol, tendo, o astro diversas representações (Ámon, Rá, Hórus), era um certo desvio para o monoteísmo, o deus do império unificado e o senhor do céu e dos deuses. Havia somente um deus egípcio cuja importância era semelhante à do deus-Sol: Osíris, deus da fertilidade e do reino dos mortos, cuja lenda, baseada nos mitos solares - segundo a lenda, foi morto no 17º dia do mês Hator, quando começava o Inverno - tinha grande aceitação entre o povo, preocupado com o além, pois mostrava os mistérios da morte e da ressurreição. Já no terceiro milénio a.C., os egípcios elaboraram um calendário solar, que era o mais perfeito da Antiguidade, permitindo-lhes, inclusive, prever as cheias do rio Nilo. O rio era a fonte de toda a vida e os egípcios acreditavam que as cheias eram activadas pela acção combinada do Sol e de Sirius, tendo esta estrela, assumido grande importância. As pirâmides, construídas durante a III Dinastia do Antigo Egipto, tinham dupla finalidade: monumentos funerários e calculadores astrológicos. Ao faraó Ramsés II, um dos maiores do Novo Egipto, é atribuída a responsabilidade pelo estabelecimento dos quatro signos cardeais do Zodíaco: Carneiro, Balança, Caranguejo e Capricórnio.

À Europa, a civilização chegou depois. Basta dizer que, na época do surgimento dos monumentos megalíticos, ou seja, dois milénios a.C., a região era primitiva, sendo habitada por um povo - chamado, pelos arqueólogos, de povo beaker - que ainda estava no início da Idade dos Metais e que ainda não tinha meios de registar o seu conhecimento. Nessa época, o Egipto já iniciava o seu Médio Império e, na Grécia arcaica, já começara a civilização micénica. E seria exactamente na Grécia que a astronomia e a astrologia teriam grande impulso, deixando o empirismo anterior.

Ao povo beaker, muito anterior aos druidas, atribuem-se os menires (monumentos megalíticos) europeus e, principalmente, o famoso conjunto de Stonehenge. Mesmo primitivo, desenvolveram um sofisticado método de calcular um calendário de precisão surpreendente, anunciando eclipses e assinalando solstícios, dos quais os menires são provas irrefutáveis. As imensas pedras de Stonehenge, com cinco toneladas cada uma, foram extraídas dos montes de Gales, e transportadas até á planície de Salisbury, a 380 quilómetros de distância. Constituído de diversos blocos, formando semicírculos e fechado por um anel de pedras, com distâncias regulares entre elas, o monumento foi submetido, a análises computorizadas, que revelaram uma grande variação de alinhamentos, mostrando que ele é, na realidade, um grande computador astrológico.

No entanto, 2000 anos antes de Stonehenge foi erigido o recinto megalítico dos Almendres, Évora, Alentejo, sendo o maior monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais antigos monumentos da Humanidade.
Foi construído há cerca de 7000 anos, nos alvores do Neolítico, a época em que surgiram, na Europa ocidental, as primeiras comunidades de pastores e agricultores, no contexto de profundas transformações culturais.

O recinto dos Almendres cuja planta original era, muito provavelmente, em forma de ferradura, aberta a nascente, parece ter sofrido acrescentos e remodelações: a forma actual do monumento, relativamente complexa, resulta, por um lado, dessas intervenções antigas e, por outro, de amputações e perturbações muito recentes. Actualmente, conta com cerca de uma centena de monólitos, alguns deles decorados.
A escolha dos lugares em que estes monumentos foram erigidos, teve seguramente em conta a estrutura física da paisagem, nomeadamente a rede hidrográfica, mas também os fenómenos astronómicos mais notórios, relacionados com os movimentos anuais do Sol e da Lua, no horizonte.

Os celtas vieram depois do povo beaker. Os druidas eram membros de um culto sacerdotal entre os antigos celtas, na Inglaterra, França e Irlanda, cujos sacerdotes adoravam vários deuses semelhantes aos do panteão greco-romano, mas com nome diferentes, reunindo-se nas florestas, ou em cavernas. Na verdade, pouco se conhece sobre os rituais dos druidas, o que tem gerado muita especulação, sem nenhuma comprovação. Eles consideravam o meio-dia e a meia-noite como horas sagradas, o que não era novidade, assim como algumas árvores, como o carvalho. E, geralmente faziam predições através da interpretação do vôo dos pássaros e de sinais encontrados nas vísceras de animais sacrificados; e podem ter usado Stonehenge como lugar de culto. Foram destruídos, na Inglaterra no ano 78 da era actual pelos romanos. Na Irlanda sobreviveram até ao século V, quando foram expulsos com a expansão do cristianismo.
Importa considerar que os rituais solares, inclusive os solstícios, eram muito mais antigos do que os druidas. Considerando que pouco se conhece sobre os rituais druidas, que eram secretos e transmitidos oralmente, a interpretação de seu pensamento fica no terreno especulativo, ou da imaginação de muitos autores.

Este simbolismo cósmico tradicional foi herdado dos povos mesopotâmicos, cujos saberes acumulados parecem ter atingido o expoente máximo na antiguidade. Tradição mais tarde veiculada pelos egípcios, que por sua vez a transmitiram aos gregos. Dizia Platão no seu Timeu: ”O dia e a noite, ao desvendarem os meses, as revoluções dos anos, os equinócios e os solstícios, formaram pela sua combinação o número, e deram-nos a noção do tempo e o meio para especular sobre a natureza do universo. Daí, nós retirámos um tipo de filosofia que é o maior bem que nos chegou e que jamais virá a nós pela liberalidade dos deuses”. Segundo Platão, o Conhecimento não se adquire por outro meio que não seja pela Iniciação. A busca do Conhecimento é caminho árduo e não uma benesse dos deuses.

Aproxima-se mais um Solstício de Inverno, em que viveremos a noite mais longa do ano, no nosso hemisfério, como que num recolhimento uterino desejado.

O Sol afastou-se do hemisfério norte. O Inverno é a época para semear.
Os frutos da colheita anterior já se encontram recolhidos.
É o momento para seleccionar os melhores frutos, obter as suas sementes e voltar a semear, porque há frutos que se estragaram, apodreceram ou não se desenvolveram. Há que eliminar estes e guardar os melhores.

Há mais frio e mais escassez de tudo.
Os membros da tribo reúnem-se à volta da fogueira onde há luz e calor. O fogo é a representação do Sol que se ausentou.
Juntos apoiam-se e compartilham do que têm. O momento transforma-se então, em celebração e cerimónia.
É a noite da solidariedade, do amor e da esperança!

Que este Solstício nos traga de volta à comunhão com as coisas do Universo e com o Universo das coisas da Natureza…

Que as luzes dos centros comerciais e outros holofotes não sejam demasiado ofuscantes e nos permitam, ainda, uma certa dose de humanidade e de reconciliação dos afectos…
Que a esperança se faça verbo, imagem e certeza….

Estamos convosco, desejando-Vos um Solstício de Luz e saudando o RENASCIMENTO de todos Nós.

A. Pires

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